20/07/2015 - 13:49
Estados Unidos e Cuba retomaram formalmente nesta segunda-feira suas relações diplomáticas e a bandeira cubana voltou a ondear na embaixada da ilha em Washington, um gesto histórico que coloca fim a décadas de hostilidades entre os dois vizinhos.
Três militares marcharam pela porta da embaixada e hastearam a bandeira cubana – vermelha, branca e azul com uma estrela solitária – às 10h36 (11h36 de Brasília), sob os acordes do hino cubano.
Sob um calor sufocante, 500 convidados e uma pequena multidão de curiosos acompanharam a cerimônia no edifício – uma mansão neoclássica – que desde o início do século XX representa os interesses cubanos.
Em frente à sede diplomática manifestantes gritavam “Viva Cuba”, “Fidel, Fidel” e “Cuba sim, embargo não”, em meio a um frenesi de cinegrafistas, fotógrafos e jornalistas de vários países.
A bandeira era a mesma que foi arriada há 54 anos na sede diplomática, quando os dois países romperam suas relações em meio à Guerra Fria, disse o chanceler cubano Bruno Rodríguez ante uma audiência de convidados que lotavam os corredores da embaixada.
As relações diplomáticas se restabeleceram de forma oficial no primeiro minuto desta segunda-feira, e as seções de interesses dos Estados Unidos e de Cuba se converteram em embaixadas de pleno poder nos dois países na mesma hora.
O restabelecimento das relações diplomáticas, disse Rodríguez em seu discurso, culmina “uma primeira etapa do diálogo bilateral e abre caminho ao complexo e certamente longo processo em direção à normalização das relações bilaterais”.
Para o chefe da diplomacia cubana, “o desafio é grande porque nunca houve relações normais entre os Estados Unidos da América e Cuba, apesar de um século e meio de intensos e enriquecedores vínculos entre os povos”.
“A partir desta embaixada continuaremos trabalhando com empenho para melhorar as relações culturais, científicas, acadêmicas e esportivas, e os vínculos amistosos”, afirmou o chanceler.
“Ratificamos a vontade de Cuba de avançar em direção à normalização das relações com os Estados Unidos, com ânimo construtivo”, disse, mas admitiu que os dois países têm muito trabalho pela frente.
“Apenas a eliminação do bloqueio econômico, comercial e financeiro que provoca tantos danos e privações ao nosso povo, a devolução do território ocupado em Guantánamo e o respeito à soberania de Cuba darão sentido ao fato histórico que estamos vivendo hoje”, disse.
Os Estados Unidos estiveram representados na cerimônia pela subsecretária de Estado para o Hemisfério Ocidental, Roberta Jacobson, e pelo chefe da missão americana em Havana, Jeff DeLaurentis.
Também estava na embaixada cubana Ben Rhodes, assessor especial do presidente Barack Obama e um dos interlocutores das negociações secretas realizadas pelos dois países por mais de um ano.
Jacobson e a diplomata cubana Josefina Vidal, as duas mulheres que conduziram as delicadas negociações de alto nível durante seis meses, passaram a cerimônia conversando como velhas amigas e posaram juntas e sorridentes para fotos diante da bandeira cubana.
Em meio à multidão reunida na sede da embaixada, o cantor Silvio Rodríguez parecia mais um anônimo.
“Nunca pensei em viver este dia, e muito menos em vivê-lo aqui, em Washington”, disse Rodríguez à AFP.
Em outra sala, Ricardo Alarcón, presidente da Assembleia Nacional do Poder Popular de Cuba, disse que “é um dia fantástico. Pessoalmente, vejo este dia como uma grande vitória dos cubanos, já que agora podemos ter relações igualitárias e de respeito mútuo”.
Em outro gesto simbólico, a bandeira cubana se somou nesta madrugada às de outros países que ondeiam fora do edifício do departamento de Estado em Washington, constatou um fotógrafo da AFP.
Rodríguez, o primeiro chefe da diplomacia cubana a visitar Washington em cinco décadas, se reunirá com o secretário de Estado John Kerry para uma coletiva de imprensa conjunta.
Já em Havana os atos formais serão realizados em 14 de agosto, quando Kerry visitar a embaixada americana.
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