O luxo ancorado no conforto cinco estrelas transformou-se na mais valiosa moeda de troca no universo dos grandes hotéis. Já não basta oferecer quartos de príncipes ? é preciso exibir credenciais, apresentar carteirinha de sócio de um clube de elite. Os selos de qualidade representam, hoje, garantia de bons serviços. Bandeiras como The Leading Hotels of the World, Relais & Chateaux e Roteiro de Charme são sinônimos de aposta certeira. Fazer parte desta turma seleta significa ter passado por inspeção rigorosa, por uma espécie de vestibular ao andar de cima. O Leading tem 420 endereços em 80 países. Há na lista nomes como o Plaza Athénée de Paris, o Cipriani de Veneza e o Copacabana Palace. Recentemente, a empresa credenciou seu segundo hotel em Buenos Aires, na Argentina, o Sofitel. Instalado em um antigo prédio de estilo neoclássico no requintado bairro de Retiro, o Sofitel Buenos Aires foi aberto em dezembro de 2002. Depois de investimentos de US$ 25 milhões de dólares, com diárias que chegam a US$ 1200, entrou no rol dos líderes da boa hotelaria. Para chegar lá, porém, a batalha foi árdua.

Como acontece com todos os membros do Leading, o Sofitel Buenos Aires passou por rigorosa avaliação. Foram mais de 1500 detalhes analisados e 137 itens de limpeza e higiene postos no microscópio. Em todo o mundo, os hotéis escrutados recebem visitas surpresa e anônimas de avaliadores. Até mesmo os sapatos dos funcionários passam pelos atentos olhos de inspetores. No caminho da recepção ao quarto, outros 17 quesitos são estudados. Exemplo: ganha pontos o hotel cujo camareiro auxilia o visitante a usar os equipamentos eletrônicos e o telefone. O porteiro é testado em 25 requisitos. ?Naturalmente os hotéis que não são aprovados tem uma segunda chance, mas se não a aproveitarem, ficam de fora do rol?, diz Tatiana Simões, gerente de marketing do Leading no Brasil.

 Trata-se, na definição do grupo Relais & Châteaux (450 estabelecimentos em 50 países) de adaptar os edifícios e seus serviços ao que eles chamam do quíntuplo ?C? – de cortesia, charme, caráter, calma e cozinha. E dá-lhe rigor. Somente depois de dois anos de análises é que o hotel recebe o aval, e mesmo assim, depois da aprovação, são submetidos a visitas anuais secretas. Para manter o selo, um membro do Relais paga anuidade de 18 mil euros. No Brasil, há apenas um hotel credenciado pela rede, o Hotel e Fazenda Rosa dos Ventos, em Petrópolis, na serra fluminense. ?Pertencer a uma cadeia que exige qualidade nos faz estar sempre buscar aperfeiçoamento?, diz Elisabete Waddington, diretora do Rosa dos Ventos. O hotel foi o primeiro a receber um prêmio especial de conduta ambiental. O sucesso das bandeiras de luxo no exterior estimulou iniciativas do gênero no Brasil. Em 1992, nasceu a Associação de Hotéis Roteiros de Charme. Sem fins lucrativos, a entidade possui 42 associados e 39 destinos espalhados de norte a sul do País. São aceitos apenas hotéis com até 60 acomodações. ?Charme é um conceito subjetivo que significa genericamente a união entre o bom gosto, atenção com detalhes, a paixão de servir, o conforto e localização?, diz Mônica Borobia, diretora de meio ambiente do Roteiros de Charme. Na trilha da exuberância natural do País, os juízes do selo tropical acrescentam mais pontos às paisagens que abraçam os hotéis. Definitivamente, não é fácil manter-se sócio da hotelaria estrelada.