Há muito tempo as principais montadoras do planeta tentam encontrar outros meios de lucrar sem depender apenas da simples venda de carros. Algumas criaram financeiras próprias para ganhar com os juros. Não deu certo. Fugiram do principal negócio, que era fabricar automóvel, e atolaram-se em dívidas. Agora, uma nova onda toma conta da indústria automobilística: criar automóveis de olho nos acessórios que eles podem receber. Não são os famosos ?opcionais de fábrica?, e sim uma leva de peças que permite mudar a cara do veículo. É o que já acontece em oficinas independentes, num fenômeno conhecido como ?tuning?. A novidade é que as grandes fábricas aderiram ao movimento. No mês passado, a General Motors criou o Global Acessory Team, um grupo formado por engenheiros e projetistas da empresa espalhados pelo mundo, para pensar somente em novas peças. ?Não há dúvida, as montadoras foram influenciadas pelo tuning?, diz Richard Dubuis, diretor da consultoria Trevisan. A nova empreitada da GM faz sucesso. ?Em 2005, faturamos R$ 150 milhões só no mercado brasileiro?, diz Luiz Carlos Lacreta, diretor geral de pós-vendas da GM. ?Até o fim deste ano pretendemos faturar R$ 210 milhões?.

O carro chefe é o Celta. O veículo, um popular que custa R$ 23 mil, sai de fábrica praticamente nu. Mas um novo pára-choque aqui, um rack ali e uma roda acolá garantem um novo visual. ?De cada dez Celtas que vendemos, oito voltam às concessionárias para receber acessórios?, diz Lacreta da GM. ?Quanto mais popular, mais acessórios tem?. A vantagem para a GM? Se um cliente decidir pôr os 36 acessórios disponíveis para o modelo custará cerca de R$ 7 mil. É um valor alto e a margem de rentabilidade com essas peças gira em torno de 60%, enquanto a venda de um carro, afirmam especialistas, rende cerca de 15%.

O negócio tem se mostrado tão atraente que hoje a GM dispõe de acessórios para todos os seus carros. Até mesmo modelos mais luxuosos como o Vectra, um veículo cujo valor ultrapassa os R$ 60 mil, pode receber novas peças como geladeira, DVD e a tecnologia bluetooth. Atualmente, a empresa tem 500 itens disponíveis para incrementar os carros. A idéia, contudo, é lançar 80 novas peças por ano. Além do lucro, obviamente perseguido pela empresa, a montadora ganha em outra ponta. ?É um modo de fidelizar o cliente e mantê-lo sempre na concessionária?, diz Corrado Capellano, diretor do setor automotivo da consultoria Roland Berger. ?O pós-venda no Brasil ainda é virgem, pouco explorado?. Nos Estados Unidos, porém, rende muito dinheiro para os concessionários. Estatísticas apontam que o segmento é responsável por 40% da rentabilidade das lojas e os 60% restantes são oriundos da venda dos carros usados. Para apresentar aos concessionários brasileiros as possibilidades de negócios nesse segmento, a GM organizou uma convenção que acontecerá na próxima semana. O objetivo é ensinar os lojistas a convencer os consumidores de que um banho de loja pode transformar qualquer ?sapo? em ?príncipe?.