24/08/2022 - 11:39
Por William Schomberg e Balazs Koranyi
LONDRES/FRANKFURT (Reuters) – Neste período do ano passado, os maiores bancos centrais do mundo estavam unidos na compreensão equivocada da inflação.
Agora, conforme os principais banqueiros centrais norte-americanos se reúnem para a conferência anual de política monetária do Federal Reserve de Kansas City em Jackson Hole, Wyoming, o banco central dos EUA parece que poderá obter uma “aterrissagem suave” para sua própria economia, mas as perspectivas para a Europa são muito mais preocupantes.
Wall St tem leve alta com foco no aumento da taxa do Fed
Investidores não veem guinada do Fed e se preparam para mensagem “hawkish” de Powell em Jackson Hole
Grande parte do mundo está enfrentando a maior alta de preços desde o início da década de 1980, levantando temores de uma repetição do fenômeno de espiral de preços e salários daquela época que exigiu taxas de juros de dois dígitos, além de recessões dolorosas, para restaurar a estabilidade de preços.
Isso deixa muitas das autoridades que estão a caminho das montanhas Grand Teton nesta semana torcendo para que as pressões inflacionárias de hoje diminuam rápido o suficiente para permitir que combatam as desacelerações previstas em economias ao redor do mundo.
“Eles estão presos entre uma recessão iminente e uma inflação altíssima. Sua primeira preocupação é reagir à inflação alta”, disse Holger Schmieding, economista-chefe do banco de investimento Berenberg. “Uma vez que a recessão esteja claramente presente, a preocupação mudará.”
Essa mudança, no entanto, pode ser assimétrica, com o Federal Reserve, em particular, sinalizando uma relutância em reverter rapidamente as marchas.
No ano passado, o chair do Fed, Jerome Powell, afirmou que o salto na inflação deveria ser transitório. À medida que essa narrativa se desfazia, ele se tornou a força motriz por trás do ritmo mais rápido de aperto monetário nos Estados Unidos em quatro décadas.
Além disso, ele e outros do banco central norte-americano também indicaram a disposição de tolerar uma certa contração da economia americana se isso for necessário para domar a inflação.
Embora haja algumas indicações de que o Fed poderá diminuir em breve seus aumentos de juros do ritmo de 75 pontos-base adotado em suas duas últimas reuniões de política monetária, Powell pode usar seu discurso no simpósio na sexta-feira para esfriar expectativas de cortes da taxa em 2023.
A inflação de preços ao consumidor nos EUA caiu, mas em julho ainda estava próxima ao maior patamar em quase 40 anos, a 8,5% –abaixo dos 9,1% no mês anterior– e deve atingir uma média de quase 4% em 2023, segundo analistas consultados pela Reuters.
A perspectiva é muito pior na Europa importadora de energia, onde a invasão da Ucrânia pela Rússia levou a preços vertiginosos de energia que devem continuar acelerando à medida que Moscou retalia as sanções europeias restringindo os fluxos de gás.
As previsões do Banco Central Europeu mostram que a inflação da zona do euro cairá para 3,5% em 2023, mas seus números têm sido constantemente revisados para cima e a Alemanha agora espera uma inflação acima de 6%, sugerindo que as próximas previsões do BCE em setembro serão mais altas.
O BCE elevou as taxas de juros no mês passado pela primeira vez em 11 anos.
(Reportagem adicional de Dhara Ranasinghe em Londres)