17/11/2004 - 8:00
Quando algo vira tema de piada, ainda que de mau gosto ou mesmo preconceituosa, é porque faz parte definitiva do cotidiano. Cabe, portanto, lembrar um chiste que caiu na boca do povo e navega pela internet. Assim: João, ao procurar um presente para a filha, entra numa loja de brinquedos e pede à vendedora bonecas Barbie. ?Temos a Barbie ginasta, por R$ 19,95; a Barbie veterinária, por R$ 19,95; e a Barbie divorciada, por R$ 265,95?. ?Por que essa é tão mais cara??, indaga o pai. E ela explica: ?Porque vem com o carro do Ken, a casa do Ken, a lancha do Ken…?. A boneca mais famosa do mundo, vendida em 150 países, com faturamento anual de US$ 2,3 bilhões ? o que representa 40% do movimento da fabricante, a Mattel ? virou tema sério, o avesso da piada. A cada dois segundos uma Barbie é vendida em algum canto do mundo. Entre os dias 20 e 21 deste mês, São Paulo abrigará uma convenção de colecionadores, evento privado que reunirá educadores, analistas de mercado, professores e, evidentemente, os fanáticos de sempre. ?Por ser adulta e independente, a Barbie projeta um ideal de estilo de vida entre as meninas?, diz a psicóloga Edda Bontempo, uma das palestrantes do evento paulistano. ?As inúmeras mudanças de vestuário e de profissões evitaram que ela ficasse ultrapassada.?
É possível apresentar esse raciocínio de outro modo: para as crianças, é apenas brincadeira. Para os mais crescidos, contudo, é um mito dos séculos XX e XXI. É fetiche que pode se transformar em dinheiro. ?No início tive um surto, cheguei a comprar oito bonecas de uma só vez, pelas quais paguei mais de R$ 1 mil?, diz Thaís Fontenele, que coleciona Barbies desde 2001, às custas de cheque especial, dinheiro de poupança e discussões com o marido. Sua coleção, hoje, reúne 300 peças, entre as ditas collectables (limitadas para colecionadores) e as pinkbox (vendidas em lojas de brinquedos tradicionais). O valor da brincadeira: R$ 47 mil.
Há raridades com preços nada meigos ? e elas comprovam a força da boneca americana como investimento. Um exemplar da Queen Elizabeth, por exemplo, está à venda na internet por US$ 249 ? uma unidade nova qualquer, na caixa, custa em média US$ 20. No Brasil, são vendidas a R$ 80. Entre os amantes da marca, há refinamentos. A paulista Juliana Catelani decidiu se desfazer da coleção de 130 bonecas, avaliada em R$ 15 mil, para iniciar uma de Barbies mais finas, do tipo silkstone (feitas de porcelana), que custam pelo menos R$ 200. ?Quando era colecionadora de caixa, não era feliz, pois gosto mesmo é de brincar, de trocar as roupinhas?, diz ela. ?E como as de porcelana não desvalorizam tanto como as tradicionais quando retiradas da embalagem, costumo dizer que elas são a minha poupança?, afirma Juliana. Há algumas regras neste negócio. Quanto mais ousadas, e portanto mais distantes do que se imagina ser uma bonequinha risonha, mais elas valem. A linha ?Lingerie?, por exemplo, é excelente aposta. Ensina a colecionadora Juliana: ?Quando comprei a Red Sunset, incluindo os impostos de importação ? mais de 60% do valor da boneca ?, desembolsei o equivalente a R$ 386. Hoje, ela custaria pelo menos R$ 770.?