27/09/2006 - 7:00
Barbie Millicent Roberts tem 47 anos e corpinho de 20. Já foi artista de cinema, popstar, paleontologista e candidata a presidente. Teve 21 cachorros, 14 cavalos, seis gatos e um papagaio. Viveu, ou vive, em 150 países. Em 1959, quando veio ao mundo pelas mãos de Ruth Handler, fundadora da fábrica de brinquedos Mattel, era vendida a US$ 3. No dia 26 de setembro, na casa de leilões Christie?s, em Londres, um lote de 4.000 bonecas vai ao martelo por pelo menos US$ 150 mil. É parte da coleção da holandesa Ietje Raebel, estilista radicada nos Estados Unidos.
A história de como Barbie deu o salto das mãos de meninas americanas do pós- universo de lances milionários, é um dos mais interessantes fenômenos econômicos do Século XX. É a trajetória de um brinquedo que para além de sua função lúdica acompanhou a história do mundo. ?Ela virou referência feminina, ícone da moda, símbolo das aspirações das meninas a caminho da puberdade e da vida adulta?, diz Érica Giacomelli, gerente sênior de licenciamento da Mattel do Brasil. ?Pode-se traduzir a evolução da moda e do comportamento das mulheres ao longo das décadas por meio do estilo das bonecas?. Ela já vestiu roupa ao estilo de Audrey Hepburn, desenhada por Hubert de Givenchy. Lembrou Grace Kelly e Jacqueline Kennedy. Teve o jeitão hippie de Janis Joplin e hoje anda nas prateleiras ao modo hip hop. Nos anos 1990, com suas primeiras fãs atingindo a idade balzaquiana, tornou-se brincadeira de gente grande. Estilistas de renome como Dolce&Gabbana, Christian Dior e Bob Mackie vestiram a menina de plástico mas também inspiraram seus modelos na Barbie. É iniciativa que desembarcou no Brasil. As grifes Doc Dog e Cavalera licenciaram desenhos inspiradas no cotidiano da boneca. ?É um raro caso, na indústria cultural, em que real e imaginário andam de mãos dadas, um influenciando o outro?, diz Erica Giacomelli.
Não se deve tratar as Barbies, neste seu avanço, apenas como reflexo da moda. É possível um olhar quase sociológico, retrato das revoluções na sociedade, mesmo quando elas fazem brotar preconceitos. No avesso das conquistas femininas, há uma ótima piada em torno da personagem da Mattel. Diz assim: ?sabe qual é a Barbie mais bacana? A divorciada, porque vem com a casa do Ben, o carro do Ben, a conta bancária do Ben?. Ben é o companheiro da moça, cujo nome foi inspirado no filho da criadora. O chiste, machista, apenas confirma a força da Barbie como ícone de seu tempo. Ela é universal porque consegue resumir preocupações universais, e por isso vende tanto, uma a cada três segundos. Apenas ela representa 50% do faturamento mundial da Mattel, com US$ 3 bilhões ao ano e lucro de US$ 350 milhões. De acordo com a consultoria Interbrand, só a marca está avaliada em US$ 1,094 bilhão. No Brasil, são importadas pela Mattel cerca de 1,5 milhão a cada doze meses. Em outras palavras: com ela ninguém pode, é o que se verá no leilão da Christie?s.
![]() |
![]() |
US$ 350 milhões é o lucro anual da Mattel com a Barbie |
![]() |
![]() |
![]() |