O Governo perdeu as estribeiras e os limites da responsabilidade fiscal. Acaba de anunciar a previsão de um rombo devastador, de R$ 100 bilhões, nas contas de 2016. Muito além dos já temerários R$ 60 bilhões, estimados inicialmente. E o que é pior: o número pode subir bem mais no andar da desastrada administração em curso. É a falência também econômica do Estado. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, como um arauto de más novas, segue propondo exercícios contábeis mirabolantes que só agravam o desajuste. Na semana passada, ele anunciou a intenção do governo de criar uma regra para evitar o corte do que chama de “despesas essenciais”. Na prática, pedirá ao Congresso uma licença para gastar, abrindo uma enorme brecha para descumprir qualquer meta de natureza fiscal. É a volta, com outra roupagem, das famigeradas pedaladas. A tentação de blindar despesas e evitar cortes orçamentários está na raiz do plano populista e inconsequente que condenou o atual governo. Suas propostas no campo econômico hoje não contam com qualquer credibilidade ou apoio para seguirem adiante no Congresso. E a falta de compromisso com reformas estruturais só piora o quadro. Analistas de todas as vertentes defendem que a única alternativa de estancar a sangria do dinheiro público é a troca de governo. O decano dos economistas e ex-ministro Delfim Netto prega abertamente que agora só o impeachment resolve.

No plano das quimeras, o ministro Barbosa vai distribuindo benefícios para angariar apoios políticos contra o processo de deposição da presidente. Acertou o alívio nas dívidas dos Estados, empurrando o rombo indefinidamente. Quem vai pagar a conta? Não interessa à atual gestão. É problema fora da prioridade. Como também, no afã de fechar com números positivos, mesmo que falsos, a planilha de despesas da União em ano eleitoral, o governo, com o endosso de Barbosa, apelou para a tal contabilidade criativa que foi condenada pelo TCU em 2014.  O ministro da Fazenda, pelas considerações do Tribunal, pode agora vir a ser afastado da vida pública, tamanho o despautério praticado sob seu comando. Aqui e ali, não faltam truques em gestação para acelerar o déficit. É necessário que o Congresso tente barrar o quanto antes essa marcha de insensatez monetária. Do contrário, o estouro vai cair na mão de todos os brasileiros.

(Nota publicada na Edição 960 da Revista Dinheiro)