13/09/2013 - 5:30
O investidor que apostou em uma carteira de ações semelhante à do Índice Bovespa no dia 11 de setembro de 2012 amargou, 12 meses depois, uma queda de 9,85% em seus investimentos. Se esse cálculo fosse refeito sem considerar as ações da petrolífera OGX, de Eike Batista, essa perda seria de 2,41%, segundo a Economática. Nesse período, as cotações da OGX, que atualmente é a terceira ação mais importante do índice, com 5% da carteira, recuaram 94%. Caso as outras duas empresas do grupo X, a mineradora MMX (0,651% do índice) e a empresa de logística LLX (0,523%), também tivessem sido retiradas, a queda teria sido de apenas 1,12%.
Nesse exercício hipotético, um investidor que tivesse aplicado R$ 1 milhão no índice em 11 de setembro de 2012 e houvesse vendido as ações na quarta-feira 11 teria sofrido um prejuízo de R$ 98.500. No entanto, se ações do mundo X que fazem parte do índice ? OGX, MMX e LLX ? tivessem sido retiradas da conta, esse investidor teria perdido apenas R$ 11.200. A diferença, R$ 87.300, seria suficiente para comprar um bom carro zero-quilômetro. Exatamente para evitar distorções como essa, que, no limite, afastam os investidores do mercado acionário, a bolsa anunciou, na quinta-feira 12, a aplicação da nova metodologia de cálculo do índice.
A nova fórmula (veja quadro “As mudanças no Índice Bovespa”) será aplicada em duas etapas, e só estará plenamente em vigor em maio de 2014. Quando isso ocorrer, a mudança deve aumentar a participação das empresas grandes, com maior valor de mercado, ainda que suas ações não sejam as campeãs na preferência do mercado. Papéis de companhias menores vão perder espaço, mesmo que suas ações sejam mais negociadas. Segundo um levantamento preliminar do Bank of America, em São Paulo, nesse momento a participação das ações da OGX ? se a petrolífera ainda frequentar os pregões ? vai recuar dos quase 5% para 0,06%. Outra ação bastante volátil nos últimos tempos, a da construtora Gafisa, verá sua fatia no índice encolher de 1,46% para 0,17%.
Edemir Pinto, diretor-presidente da BM&FBovespa: “As ações negociadas por centavos
amplificam artificialmente a volatilidade do mercado”
Nomes tradicionais vão ganhar importância. As ações ordinárias da Petrobras, hoje representando 2,8% do índice, vão quase dobrar sua importância, para 5,46%. O mesmo ocorre com as ordinárias da Vale, com Embraer e com as ordinárias e as preferenciais do Bradesco (veja quadro “Avanços e retrocessos”). Outra mudança importante é a retirada das ações muito baratas, aquelas que são negociadas por menos de R$ 1, conhecidas na bolsa pelo termo inglês ?penny stocks?, literalmente ações de centavos. Atualmente, o único caso é o da OGX. Cotada a R$ 0,36, ela frequentemente encerra cada pregão com oscilações percentuais na casa de dois dígitos.
Nos 12 meses até 11 de setembro, o Índice Bovespa amargou
uma queda de 9,85%. Sem as ações das empresas do grupo x,
a queda teria sido de 1,12%
Além de ser um papel naturalmente volátil por ser uma empresa pré-operacional, seu preço reduzido agrava o problema. Sua menor oscilação possível é um centavo, algo que, na ponta do lápis, representa uma alta ou uma queda de 2,8%. Assim, cada centavo de alta ou de baixa nas ações da petrolífera de Eike Batista faz o índice oscilar 0,2 ponto percentual. Essas mudanças vão alterar a vida dos investidores de duas maneiras. A primeira é que a retirada das ?penny stocks? fará com que o índice seja menos volátil de um dia para o outro. ?As ações negociadas por centavos amplificam artificialmente a volatilidade do mercado?, diz Edemir Pinto, principal executivo da bolsa.
A segunda mudança é que tornará o índice mais vinculado ao mercado externo. Ao elevar a participação de ações como Petrobras e Vale, produtoras de commodities cujos resultados são muito influenciados pela economia internacional e pelo câmbio, o índice será menos influenciado por construtoras, empresas de transporte aéreo e de varejo. Segundo Pinto, os novos critérios também vão reduzir o espaço para a manipulação no mercado. Pela regra antiga, era relativamente fácil a um investidor mal-intencionado elevar artificialmente os negócios com uma ação barata, fazendo com que ela entrasse no índice e criando uma demanda cativa por parte dos fundos indexados ao Ibovespa.
Isso ocorreu em 2011 com os papéis da empresa de cosméticos gaúcha Mundial, naquilo que foi apelidado pelo mercado de ?bolha do alicate?. A bolsa agora terá o poder de impedir a entrada de uma ação do índice, ou de retirá-la, no caso de situações especiais. ?Esse poder já existia, mas era algo interno, e agora está explícito na metodologia?, diz Pinto. Pinto negou que as mudanças tivessem sido provocadas pelo caso da OGX. No entanto, ele afirmou que, a partir de agora, os investidores terão de ser mais cautelosos com empresas pré-operacionais como as de Eike Batista. ?Garantir o acesso dessas empresas ao capital é importante para o mercado e para a economia brasileira, mas os investidores terão de prestar mais atenção aos elementos de risco contidos nos prospectos?, diz ele.