Fazia tempo que eles não eram tão duros. Na semana passada, um memorando do Clube Militar circulou entre seus 40 mil associados com críticas diretas à corrupção e aproveitando o quadro para lançar novas reclamações contra a falta de reajuste nos proventos dos militares. Seus termos lembraram tempos passados. ?É a esse quadro preocupante, que pode até mesmo comprometer a ordem institucional, que se agregam as nossas reivindicações?, escreveu o presidente do clube, general da reserva Luiz Gonzaga Lessa. ?Vou seguir nessa linha, interpretando os sentimentos dos militares da ativa?, disse ele à DINHEIRO. O presidente do Clube da Aeronaútica, Ivan Frota, se somou aos protestos. ?Agora que sabemos que há tanto dinheiro no jogo da corrupção, fica cada vez mais injustificável protelar nosso reajuste?, assinalou o brigadeiro da reserva.

Dentro dos quartéis, enquanto isso, multiplicou-se a circulação de e-mails com ataques à política econômica e questionamentos à própria hierarquia das Forças Armadas. ?Não se vê majores, coronéis ou generais de peito, que levantem sua voz contra os abusos e a míngua a que a tropa vem sendo submetida?, escreveu, em carta que circula na internet, o tenente Marcos Paulo Cavaliere de Medeiros, primeiro colocado da turma do ano 2000 da Academia Militar de Agulhas Negras (Aman). ?O governo Lula já mostrou para o que veio: gastos absurdos e miséria para o povo?. O comando do Exército mandou abrir sindicância para ouvir o tenente sobre o conteúdo do texto.

Num encontro com chefes militares, no começo do ano, Lula se comprometeu a atender o pedido de 33% de reajuste, mas uma determinação do ministério da Fazenda limitou o aumento a 10%. Em Brasília, cerca de 40 mulheres de militares da ativa mantém um acampanhamento diante do Congresso, com ataques diários contra o governo. A média salarial no Legislativo, Executivo e Judiciário é de R$ 7,5 mil. Nas Forças armadas, de R$ 2,5 mil.

Na terça 7, o comandante do Exército, Francisco Albuquerque, recebeu o deputado Jair Bolsonaro, líder no Congresso dos militares descontentes. O ministro, segundo Bolsonaro, informou que na próxima semana ele e seus colegas da Marinha e da Aeronáutica irão procurar o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, para aumentar a pressão. Nas contas de Albuquerque, o Exército está com 20% de sua frota de veículos parada por falta de peças de reposição. ?Esquecer o papel estratégico do exército não é uma atitude inteligente?, registra o ex-ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves.

R$ 168 é o soldo de um recruta no Exército, que está com 20% de sua frota parada por falta de peças