01/05/2017 - 9:37
A um ano e cinco meses da eleição de 2018, partidos da base aliada do governo Michel Temer disputam o espólio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste. Nos bastidores, até integrantes do PMDB de Temer buscam composições e acertos regionais para ter Lula no palanque, mesmo sendo oposição ao PT.
O movimento acompanha a liderança do ex-presidente nas pesquisas de intenção de voto, embora ele seja réu em cinco ações penais, três das quais no âmbito da Lava Jato. A cúpula do PT, porém, já considera com mais atenção a possibilidade de o petista não poder concorrer ao Palácio do Planalto, em 2018, e tenta montar um plano B.
Com 26,8% dos eleitores brasileiros, o Nordeste virou um celeiro de votos em busca de um candidato. Lá, os problemas causados pela seca foram acentuados pela redução drástica de investimento em obras no semiárido e no agreste.
Diante de tantas incertezas provocadas pelas delações da Odebrecht, os partidos também procuram “outsiders” na política – sem processos ou máculas – para lançar em disputas de todos os níveis.
“Existem hoje dois cenários. Com Lula, haverá uma candidatura que catalisa o enfrentamento. Sem ele, ocorrerá uma multiplicidade de candidatos, como na eleição de 1989”, disse o deputado Jutahy Junior (PSDB-BA), aliado do senador tucano José Serra (SP).
Pesquisa Datafolha divulgada ontem (30/04) mostrou que Lula ampliou sua liderança, apesar das denúncias, chegando a 30% das preferências. Mesmo assim, para 32% dos entrevistados, o governo do petista (2003-2010) foi o que registrou maior incidência de corrupção. A rejeição a Lula também chegou a 45%. Se as eleições fossem hoje, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) ocuparia o segundo lugar, de acordo com o Datafolha, empatado tecnicamente com a ex-senadora Marina Silva (Rede).
Lula já deu indicações de que, caso seja condenado em segunda instância e impedido de entrar no páreo, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad pode ser o indicado para concorrer ao Planalto, em 2018. Seu afilhado favorito para a missão seria o ex-governador da Bahia e ex-ministro Jaques Wagner. Até agora, no entanto, as delações atingiram mais Wagner do que Haddad. O apoio ao também ex-ministro Ciro Gomes (PDT) é hoje descartado pela cúpula do PT, sob o argumento de que ele é muito “intempestivo” e não resistirá à campanha.
“Eu não sou lulista, mas temos de dar a Lula o que é de Lula”, afirmou o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), que já foi ministro da Previdência no governo Dilma Rousseff. “Se ele não puder disputar, não vejo um substituto natural. Não há um nome no PT que tenha o mesmo carisma.”
Vazio. Para o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), o ex-presidente é um “candidato fortíssimo”, mas as alianças estão em compasso de espera porque, se ele virar “ficha suja”, ficará inelegível.
“Haverá um grande vazio se Lula não puder se candidatar”, avaliou Lúcio, que é irmão de Geddel Vieira Lima e, da mesma forma que o ex-ministro, tornou-se alvo da Lava Jato. “Além disso, ninguém sabe se esse Doria terá a mesma pegada”, emendou, numa referência ao prefeito de São Paulo, João Doria, mencionado como possível candidato do PSDB à sucessão de Temer.
Presidente da Comissão Especial da Câmara que analisa propostas para a reforma política, Lúcio acredita que o discurso da Lava Jato não será tão explorado na campanha porque as investigações envolvem todos os grandes partidos. “Desta vez, o PT não poderá criticar ninguém”, provocou.
A opinião é compartilhada pelo líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), que se tornou adversário de Temer. “Com essa história de criminalizar todo mundo, Lula vai fazer um passeio em 2018”, disse Renan, também na mira da Lava Jato, em recente conversa com amigos.
Dono de mais de 70 pontos de aprovação nas pesquisas, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), é lembrado como opção de vice numa chapa do PSDB à Presidência. Tudo indica, porém, que ele será candidato ao governo da Bahia.
Em seu segundo mandato, ACM Neto conquistou redutos antes dominados pela esquerda e tem sido visto como um político em ascensão no Nordeste. “Na última eleição em Salvador, tive uma votação linear em todas as classes sociais”, disse ele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.