31/07/2025 - 6:30
Ao manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano, o Banco Central (BC) tomou uma atitude coesa e alinhada com suas decisões anteriores, além de sinalizar a continuidade de uma política monetária restritiva pelo menos até 2026, apontam especialistas consultados pela IstoÉ Dinheiro.
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Ao mesmo tempo, ao enfatizar o cenário adverso, deixa em aberto a possibilidade de novas altas neste ano. “No comunicado anterior, eles já falavam que o cenário internacional era ‘adverso’, mas agora usaram ‘mais adverso’. Ou seja, estão ainda mais preocupados com o que acontece lá fora, principalmente agora, depois do tarifaço”, analisa o economista e analista sênior da ZIIN Investimentos, Marcos Vinícius Oliveira.
Na tarde desta quarta-feira, 30, o presidente Donald Trump assinou o decreto que oficializa taxas de 50% sobre uma série de produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. Foi a maior tarifa em uma série de novas taxas criadas pelo Republicado sobre os produtos estrangeiros que entram no país.
“Existe espaço para maior volatilidade, o que poderia exigir uma resposta mais firme do Banco Central”, afirma o CEO da iHUB Investimentos, Paulo Cunha, que classifica as tarifas como “um fator surpresa que pesou sobre essa reunião.”
Não é consenso, no entanto, que as taxas trariam a necessidade de um aperto monetário maior. O diretor da Bossa Invest, João Pedro Ribeiro do Val, considera que o tarifaço de Trump poderia ter um impacto deflacionário e, assim, abrir espaço para um corte de juros.
Estrategista chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz destaca, no entanto, a ausência de qualquer sinalização do BC neste sentido. “O mercado interpreta esse fator como potencialmente deflacionário, mas o comunicado não trata diretamente dessa interpretação. O que se afirma é que o cenário ainda segue marcado por expectativas de inflação elevadas”, afirma.
CEO da Hike Capital, Jonas Carvalho destaca que as tarifas podem ocasionar uma depreciação no câmbio, o que elevaria ainda mais as pressões inflacionárias.
Cortes de juros só em 2026
Apesar de enxergarem uma porta aberta para novas altas dos juros, as análises em geral apontam para uma manutenção dos juros no patamar até o final do ano.
“Em tempos de incertezas econômicas e políticas, manter a taxa Selic inalterada é menos uma escolha técnica e mais uma declaração de compromisso com a estabilidade macroeconômica”, comenta o economista da Droom Investimentos, Luan Cordeiro. “O cenário mais provável aponta para cortes a partir do primeiro trimestre de 2026.”
Economista chefe do Banco BMG, Flávio Serrano também acredita em cortes em 2026 e destaca a menção no comunicado do BC à “manutenção da taxa Selic no atual patamar por um período bastante prolongado”.
Inflação e atividade econômica
A permanência da inflação elevada está entre os fatores que, segundo os especialistas, pressionam pela manutenção de uma política monetária restritiva. “Os núcleos de inflação permanecem acima do compatível com a meta, o que impede qualquer flexibilização no curto prazo”, afirma o CEO da Hike Capital, Jonas Carvalho.
A taxa básica de juros é a ferramenta de política monetária do Banco Central para tentar atingir a meta de inflação, fixada em 3% para o ano de 2024, com tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p.) para cima ou para baixo.
Segundo a última edição do Boletim Focus, que reúne a média das previsões do mercado financeiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminará o ano em 5,09%, ou seja, fora do intervalo de tolerância da meta. Nos 12 meses até junho, o indicador acumulou alta de 5,35%.