A placa é de agência de turismo, mas vende-se poucos bilhetes aéreos e pacotes de viagem. O que mais se encontra nessas lojas de turismo é o caminho clandestino para se remeter dinheiro ao exterior. No País, existem 252 agências de turismo que operam com câmbio. Nos últimos doze meses, o Banco Central flagrou em 40 delas operações ilegais com moeda estrangeira e, em boa parte dos casos, suspeita de lavagem de dinheiro. Nos 40 casos, o BC fechou os departamentos de câmbio das agências. Algumas delas
chegavam a movimentar US$ 1 milhão por dia em operações com câmbio no mercado paralelo e sustentavam um esquema bem engendrado de evasão de divisas. Se depender do BC, do Ministério Público e da Polícia Federal vai ser o fim das lojinhas de turismo de fachada. É a primeira blitz em larga escala na história de fiscalização contra os doleiros.

A vigilância do governo ficou mais rígida depois do caso Banestado. O escândalo apontou agências de turismo e câmbio envolvidas em esquemas internacionais de lavagem de bilhões de dólares. A maior delas é a agência de turismo Barcelona, do proprietário Antonio Oliveira Claramunt, conhecido como Toninho da Barcelona, um dos doleiros mais famosos e procurados do País. Foragido desde março deste ano, Toninho é acusado de formação de quadrilha e evasão de divisas. Depois de grampear por quatro meses seus telefones, o Ministério Público em conjunto com a Polícia Federal fez uma blitz em duas agências mantidas por Toninho, mas ele fugiu. ?Existem milhares de casos de doleiros ilegais como ele e não há controle nenhum sobre isso?, diz Silvio Luís de Oliveira, procurador da República, que investiga o caso.

Mala preta. Essas agências de turismo são bastante simples na aparência e mantêm um esquema de movimentação de dólares, euros e libras entre países. O esquema de lavagem de dinheiro usado por Toninho exemplifica como as agências operam. Toninho recebia o dinheiro em reais e depositava em dólares no exterior para seus clientes, sem passar pelo sistema bancário no Brasil. Doleiros como Toninho contam com uma rede de colaboradores localizados em vários países, que fazem os depósitos em moeda estrangeira. Para alimentar o esquema, Toninho chegava até a usar a velha operação da mala preta e cruzava fronteira carregando dólares para abastecer sua conta fora do Brasil. Por meio do caso da Barcelona, outras agências de turismo e câmbio que operavam ilegalmente foram descobertas. Estão sendo investigados ainda empresários e policiais federais que estavam envolvidos no esquema de sonegação de tributos.

Há dois meses, o BC fechou a área de câmbio da agência de turismo Turist, que operava há 15 anos em São Paulo. A agência movimentava mais recursos com compra e venda de moeda estrangeira do que com passagens aéreas e pacotes de viagens. ?Suspeitamos de ilegalidade porque a atividade principal passou a ser o câmbio?, diz Paulo Sérgio Cavalheiro, diretor de fiscalização do BC. Procurada pela DINHEIRO, a dona da Turist, Roseli Ciolfi, admitiu que a fiscalização do BC ficou mais rígida, mas não quis responder o motivo de ter sido descredenciada a operar com câmbio. A BCE Turismo, com loja no Aeroporto Internacional de São Paulo, é outra agência que foi apontada com suspeita de evasão de divisas. A loja baixou as portas e os funcionários ficaram sem receber. Até a rede de hotéis Hilton do Brasil consta na lista negra do BC de empresas proibidas a operar com moeda estrangeira. ?Deve ter havido uma falha de comunicação com o Banco Central?, defende-se o diretor Ernesto Martins.

Desde os atentados nos Estados Unidos, a fiscalização mundial de lavagem de dinheiro ficou mais rígida. Agora, o sistema financeiro internacional troca informações entre países quando levanta algum caso suspeito. Na semana passada, a Polícia Federal recebeu um telefonema da Europa informando que um brasileiro estava transferindo milhões de euros de um banco europeu para outra instituição e pediu ajuda na investigação. O governo acredita que com o trabalho integrado ficará mais fácil pegar os doleiros. ?É importante trabalharmos em conjunto principalmente com o Banco Central na checagem de informações suspeitas?, diz Mário Menin Junior, delegado-chefe de Repreensão aos Crimes Financeiros da Polícia Federal. ?Só assim conseguiremos fechar mais o cerco?, afirma Menin. Daqui pra frente, ser doleiro vai ficar cada vez mais difícil.