A perda da maioria parlamentar pelo bloco governista do Japão aumentou as perspectivas de que um novo governo precisará elevar os gastos, gerando possíveis complicações para novas altas da taxa de juros pelo banco central japonês.

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O Partido Liberal Democrático (PLD), do primeiro-ministro Shigeru Ishiba, e seu parceiro de longa data, o Komeito, não conseguiram manter a maioria na eleição para a câmara baixa do Parlamento no fim de semana, lançando dúvidas sobre quanto tempo o primeiro-ministro poderá manter seu cargo.

“Independentemente de quem estiver no poder, o novo governo será forçado a adotar políticas fiscais e monetárias expansionistas para evitar danos aos eleitores”, disse Saisuke Sakai, economista sênior da Mizuho Research and Technologies.

Para se manter firme no poder, o PLD, que tem governado o Japão durante quase toda a sua história pós-guerra, provavelmente precisará cortejar partidos menores da oposição como parceiros de coalizão ou, pelo menos, para alianças baseadas em políticas específicas.

Embora Ishiba já tenha proposto um orçamento suplementar que excede os 13 trilhões de ienes (85 bilhões de dólares) do ano passado, ele pode enfrentar pressão para um pacote que exceda 20 trilhões de ienes, disse Sakai.

O aumento da turbulência política pode dificultar o trabalho do Banco do Japão em sua tentativa de retirar a economia de décadas de estímulo monetário, dizem analistas.

O banco central abandonou os juros negativos em março e elevou a taxa de curto prazo para 0,25% em julho, considerando que o Japão estava progredindo no sentido de atingir de forma duradoura sua meta de inflação de 2%.

O presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, prometeu continuar elevando os juros e os economistas não veem nenhuma mudança imediata importante na direção mais ampla da política monetária.

Entretanto, uma composição parlamentar nova poderia privar o banco central da estabilidade política de que ele precisa para conduzir uma elevação suave dos juros, dizem analistas.

“A barra está mais alta para que o Banco do Japão aumente novamente a taxa de juros até o final deste ano em meio a esse ruído político”, disse Masahiko Loo, estrategista sênior de renda fixa da State Street Global Advisors.

Ao mesmo tempo, um iene fraco pode se tornar uma dor de cabeça para as autoridades japonesas, pois aumenta o custo das matérias-primas importadas, elevando a inflação e prejudicando o consumo.

Se o iene se enfraquecer para 160 por dólar, o Banco do Japão “será pressionado a aumentar os juros novamente para conter a fraqueza da moeda japonesa”, disse Takeshi Minami, economista-chefe do Norinchukin Research Institute.

A necessidade de outro aumento da taxa também pode aumentar se a queda do iene for acelerada por uma vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos em 5 de novembro, acrescentou ele.