Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) – O Banco Central subiu a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,25% ao ano, seguindo a indicação de que reduziria a intensidade de seu ciclo de aperto monetário para conter a inflação, mas disse que antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude, na reunião de agosto.

Em comunicado, a autarquia afirmou ainda que as medidas de cortes de tributos para baratear combustíveis, energia e telecomunicações, em tramitação no Congresso, reduzem sensivelmente a inflação neste ano, mas elevam, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante da política monetária, atualmente focado em 2023.

O BC ressaltou que as projeções usadas para tomar a decisão desta quarta não incorporam o impacto dessas medidas tributárias, ressaltando que a incerteza em torno de suas premissas está maior do que o usual e cresceu desde a reunião de maio.

“O Comitê nota que a crescente incerteza da atual conjuntura, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação”, afirmou nesta quarta-feira o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) da autarquia.

A magnitude da elevação foi em linha com a expectativa do mercado, de acordo com pesquisa Reuters que ouviu 30 instituições. A pesquisa, porém, previa que o ciclo de aperto seria encerrado agora.

Em relação aos preços no Brasil, o comunicado afirmou que a inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente, tanto em componentes mais voláteis como em itens associados à inflação subjacente.

Nesse cenário, o BC agora vê o IPCA em 8,8% no fim deste ano, ante projeção de 7,3% na última reunião. A projeção passou de 3,0% para 4,0% em 2023. Em 2024, iria a 2,7%.

Como o cenário não incorpora o pacote em análise no Congresso, há tendência, segundo a avaliação do BC, de que as projeções para a inflação em 2023 fiquem ainda maiores em caso de aprovação das medidas.

Nos cálculos das projeções, o BC supôs uma trajetória de juros que termina 2022 em 13,25% ao ano, cai para 10,0% em 2023 e 7,50% em 2024. Em seu cenário de referência, a autarquia mantém premissa de que o petróleo seguirá a curva futura até o fim do ano, mas aumentou sua previsão para o barril em dezembro de 100 dólares para 110 dólares.

AO REDOR DA META

O Copom também mudou o tom em relação ao cumprimento da meta de inflação. Agora, a diretoria do BC passou a dizer que sua decisão é compatível com a convergência da inflação “para o redor da meta” ao longo do horizonte relevante, e não mais “para as metas”, como dizia o comunicado de maio.

“A diferença com formulações anteriores não é retórica”, disse o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, em nota. “A meta é bem definida, assim como seu teto. O redor da meta pode ser, legitimamente, aproximando-se de seu teto pelo lado de cima e em horizonte móvel a cada, digamos, 6 meses.”

Sobre o ambiente externo, o BC avaliou que o cenário seguiu se deteriorando, marcado por revisões negativas para o crescimento global prospectivo em um ambiente de fortes e persistentes pressões inflacionárias. Também citou incertezas gerada pelo aperto monetário em economias avançadas.

A comunicação do Copom veio no mesmo dia em que o Federal Reserve, banco central dos EUA, elevou a taxa básica de juros do país em 0,75 ponto, na maior alta desde 1994, e projetou desaceleração da economia e aumento do desemprego nos próximos meses.

“Em alguma medida o Fed ajudou o BCB ao subir mais forte sua taxa hoje, afinal o BC norte-americano está entrando com mais firmeza no combate à inflação e esta é um fenômeno global”, disse o economista-chefe da corretora Necton, André Perfeito.

Com a decisão desta quarta, que teve apoio unânime do colegiado, o BC levou a Selic a um patamar 11,25 pontos acima da mínima histórica de 2%, atingida em meio à pandemia de Covid-19 e que vigorou até março do ano passado. Foi a décima primeira elevação consecutiva da taxa básica, ao nível mais alto desde janeiro de 2017, quando estava em 13,75% ao ano.

Na reunião de maio, o Copom havia elevado a Selic em 1,0 ponto percentual, dizendo ser provável uma extensão do ciclo de alta dos juros com um ajuste de menor magnitude na reunião de junho. Na ocasião, o BC não deixou claro em seus comunicados se a alta de juros neste mês seria a última.

A magnitude do ajuste na Selic anunciado nesta quarta era esperada pelo mercado, mas o foco dos analistas estava nas sinalizações que o BC daria no comunicado em relação aos passos futuros da política monetária diante do surgimento de novos riscos fiscais, com o governo abrindo os cofres em ano eleitoral para baixar preços de combustíveis, energia elétrica e alimentos.

Como mostrou a Reuters, medidas implementadas ou anunciadas nos últimos meses que envolvem cortes de tributação representarão uma perda de arrecadação de ao menos 110 bilhões de reais neste ano.

Analistas alertam que parte desses cortes de tributos pode não chegar ao consumidor e avaliam que o movimento do governo embute riscos fiscais que geram pressões inflacionárias a médio prazo. A reversão de medidas temporárias a partir de janeiro ainda empurra parte da inflação para 2023, que, no momento, é o ano que está na mira do BC para cumprimento da meta de inflação.

Diante das novas medidas para segurar preços, analistas começaram a rever suas projeções, reduzindo as expectativas de inflação neste ano, mas piorando as previsões para 2023. O Credit Suisse, por exemplo, reduziu sua projeção do IPCA este ano de 9,8% para 7,6%, ao mesmo tempo em que elevou a estimativa para 2023 de 5,1% para 5,3%, citando riscos do pacote anunciado pelo governo.

Em maio, o IPCA desacelerou e veio abaixo do esperado pelo mercado ao registrar uma alta de 0,47%. A inflação acumulada em 12 meses segue acima de dois dígitos, com elevação de 11,73%.

A meta de inflação para este ano, já abandonada pelo Banco Central, é de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Para 2023, a meta é 3,25%, também com a mesma margem.

Por conta da greve de servidores, o Banco Central vem atrasando a divulgação de indicadores. No comunicado do Copom, a autarquia informou que as expectativas de inflação do mercado para 2022, 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 8,5%, 4,7% e 3,25%, respectivamente.

(com reportagem adicional de José de Castro)

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