19/06/2025 - 6:00
A expectativa pelo aumento da taxa de juros na quarta-feira, 18, não era unânime entre os agentes de mercado. Boa parte apostava na manutenção da Selic a 14,25%. Mas a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar os juros em 0,25 ponto percentual, a 15% ao ano, foi avaliada pelo mercado como ‘hawkish’ (dura), mas técnica e acertada.
+ Brasil sobe para a 2ª posição em ranking de juros reais; veja taxas em outros países
Esse é o patamar mais alto da Selic desde julho de 2006, quando passou de 15,25% para 14,75%. Segundo o comunicado do Copom, o Comitê “entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.
Analistas consultados por IstoÉ Dinheiro apontam para a mensagem de “compromisso” em fazer a inflação convergir para a meta. A Fecomercio-SP, por exemplo, avalia “que o comitê aumentou os juros para consolidar sua abordagem robusta de controle da inflação”.
Mesmo em tom considerado mais duro, o economista-chefe do Banco Daycoval destaca os apontamentos do Copom sobre a necessidade de se ter uma política monetária “em patamar significativamente contracionista”.
A visão positiva da decisão também se pela indicação do próprio Copom de que a taxa deve se manter nesse patamar “por período bastante prolongado”.
“Entendo que a subida foi um tom bastante positivo. Eles já deixam aqui um guidance, ou seja, uma sinalização dos próximos passos de uma interrupção do processo de subida de juros. Eles não falam de um encerramento de ciclo, mas entendo que de fato é isso sim. Acredito que é um fechamento realmente com chave de ouro”, diz Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital.
Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, avalia que a elevação do Banco Central é coerente com o atual cenário inflacionário. “A decisão foi técnica e crucial. Agora, a continuidade ou não das altas vai depender dos indicadores, compromisso do governo com as contas públicas e da confiança nos rumos da economia brasileira nos próximos meses”, afirma.
Segundo Cunha, o cenário externo também pode influenciar diretamente os próximos passos do BC. “Se os Estados Unidos iniciarem um ciclo de afrouxamento monetário antes do previsto, isso pode antecipar uma mudança também por aqui. Mas, por enquanto, o tom da ata será o principal termômetro do mercado”.
Cortes só em 2026
Se de um lado a alta dos juros pode ter dado uma pausa, por outro, o começo de uma queda está no horizonte do mercado apenas para 2026.
“A inflação está resiliente, acima do teto da meta, o que deve manter os juros em patamar elevado por mais tempo. A perspectiva é que a taxa comece a cair somente a partir de 2026”, avalia Ricardo Serone, diretor Financeiro e de Investimentos da BB Previdência.
Em maio, a inflação medida pelo IPCA desacelerou ante abril, para aumento de 0,26%. Mas, em 2025, acumula alta de 2,75% e, nos últimos 12 meses até maio, subiu 5,32%, bem acima da meta de 3% perseguida pelo Banco Central, assim como do teto, de 4,5%. Contribuíram para a queda, em maio, a redução nos preços dos alimentos e dos combustíveis.
“O Copom menciona os sinais de moderação do crescimento da economia por um lado, mas também ressalta as incertezas na condução da política fiscal, com pressões no mercado de trabalho e projeções de inflação ainda elevadas. Caso tenhamos novo aumento de gastos e uma indicação de orçamento mais expansivo em 2026, o Copom pode manter os juros elevados por mais tempo”, afirmou Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter.
Apesar do recado claro de fim de ciclo altista dos juros, o comunicado dá a entender que esse ciclo poderá ser retomado “caso seja apropriado”. “Deixar esta porta aberta é algo bastante importante, especialmente em momentos de elevada incerteza como o que vivemos”, enfatizou Helena Veronese, Economista-Chefe da B.Side Investimentos.
*Colaborou Bruno Pavan