O Banco Central Europeu (BCE) deve elevar os juros em 50 pontos-base (pb) de forma constante por “um período de tempo”, à medida que este ritmo de aperto monetário se torna a “norma no curto prazo”, afirmou o vice-presidente da instituição, Luis de Guindos, em entrevista ao Le Monde, publicada no jornal e no site do BCE nesta quinta-feira, 22. Em decisão na semana passada, o BCE reduziu seu ritmo de alta de juros e optou por uma elevação de meio ponto porcentual.

De acordo com ele, os juros básicos na zona do euro entrarão em território restritivo, já que o BCE precisa “fazer mais” para retomar a inflação de 2% na região – meta da entidade – ainda que isso signifique prejudicar uma economia já enfraquecida. Segundo as projeções do BC, o Produto Interno Bruto (PIB) do bloco deve contrair 0,2% no quarto trimestre de 2022 e 0,1% nos três primeiros meses de 2023.

Para a inflação, a expectativa é que ela siga próxima do nível atual (10,1%) pelos próximos “dois ou três meses”, ante de recuar a partir do segundo trimestre de 2023 e ficar ao redor de 7% em meados do ano que vem, explicou Guindos.

“Não temos escolha. Se não colocarmos a inflação em uma trajetória de convergência para 2%, será impossível que a economia se recupere”, alertou Guindos. De acordo com ele, deixar os preços altos afeta a renda disponível dos domicílios e prejudica principalmente as camadas mais vulneráveis da população europeia.

O dirigente ainda avaliou que, no momento, não há uma “espiral” de alta dos salários na zona do euro. Para que isso continue a ser evitado, o BCE precisa manter sua credibilidade, de forma que as expectativas de médio prazo para a inflação sigam sob controle, disse Guindos.

Quanto aos riscos à estabilidade financeira, Guindos afirmou que houve deterioração recentemente por conta de “baixo crescimento, alta inflação e aperto das condições financeiras”. Ele expressou preocupação em relação à possibilidade dos mercados subestimarem a persistência da inflação e considerarem a política fiscal adotada por países da zona do euro incompatível com a postura monetária mais dura do BCE. “Foi isso o que aconteceu no Reino Unido em setembro”, advertiu.