O Banco Central Europeu (BCE) voltou a aumentar, nesta quinta-feira (27), suas taxas de juros, dando prioridade absoluta ao combate à inflação, apesar dos riscos de recessão econômica.

Os 25 governadores do banco emissor europeu concordaram em aumentar suas taxas de referência em 0,75 ponto percentual, levando-as a uma faixa de 1,5% a 2,25%.

Este é o terceiro aumento consecutivo desde julho, em um processo alinhado com a política de outros bancos centrais.

A presidente do BCE, Christine Lagarde, também abriu as portas para novos aumentos.

“Teremos mais aumentos no futuro, então o processo de normalização continua”, afirmou.

Esse aumento já era esperado pelos mercados.

O BCE está sob forte pressão para conter a inflação recorde, causada pelo aumento dos preços dos alimentos e especialmente da energia desde a invasão russa da Ucrânia.

O aumento dos preços na zona do euro, composta por 19 países, atingiu 10% em setembro em relação ao ano anterior, cinco vezes mais do que a meta do BCE de 2% ao ano.

O BCE explicou que outros fatores reforçaram a subida dos preços, como “problemas na cadeia de abastecimento e da demanda na recuperação após a pandemia”.

Lagarde afirmou que a subida dos preços poderá ser “maior que o esperado” nos próximos meses e admitiu que “a probabilidade de recessão está cada vez mais no horizonte”.

De fato, o aumento das taxas, principal ferramenta usada pelos bancos centrais para conter a alta dos preços, encarece o crédito ao consumo e ao investimento.

Mas Lagarde defendeu a medida.

“A decisão que tomamos hoje é a mais adequada para restaurar a estabilidade dos preços, que também é fundamental para que a economia prospere e se recupere”, afirmou.

A invasão russa da Ucrânia levou Moscou a reduzir suas exportações de gás para a Europa e alimentou temores de escassez e contas mais caras para os consumidores no inverno boreal (verão no Brasil).

Se a Rússia cortar permanentemente suas entregas de gás para a Europa, a economia da zona do euro poderá contrair 1% em 2023, alertou o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos.

– Reduzir as dívidas públicas –

O aumento das taxas também eleva os juros das dívidas públicas.

É por isso que muitos governos europeus, que despejam bilhões de euros para sustentar o poder de compra da população e a atividade das empresas, nem sempre veem com bons olhos o endurecimento da política monetária.

A nova chefe de governo da Itália, Giorgia Meloni, destacou o “risco” que essas decisões representam “para Estados-membros com uma dívida pública alta”.

O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu que se evite “quebrar a demanda” em prol do combate à inflação.

Mas Lagarde pediu prudência com os gastos.

“Os governos devem aplicar políticas fiscais que demonstrem seu compromisso de reduzir gradualmente os altos níveis da dívida pública”, enfatizou.

– Excesso de liquidez –

Uma questão para os mercados é a redução do saldo de ativos do BCE, que atingiu 5 trilhões de euros em títulos graças aos seus programas de compra de ativos para apoiar a atividade econômica.

Lagarde disse que a entidade vai determinar em sua próxima reunião em dezembro os “princípios-chave” para cortar sua carteira.

O emissor europeu anunciou em particular que vai endurecer as condições de concessão de empréstimos vantajosos aos bancos, aumentando as taxas e oferecendo “datas extras para reembolso antecipado voluntário”.

“Dada a inesperada e excepcional aceleração da inflação”, o dispositivo de empréstimos (TLTRO na sigla em inglês) precisa ser “recalibrado”, disse o BCE.