Um dos principais mantras do mundo dos investimentos é a diversificação da carteira, estratégia para proteger o patrimônio diante de flutuações do mercado. Para a diversificação geográfica, um ativo muito usado é o BDR (Brazilian Depositary Receipts). Basicamente, BDRs possibilitam que os investidores brasileiros se tornem sócios de empresas listadas em outras bolsas, como Apple, Google, Microsoft, Nvidia, Amazon, XP ou Nubank.

Uma das vantagens de investir em BDRs, além da facilidade de operar na bolsa do Brasil, é que as operações não sofrem a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na remessa do dinheiro para o exterior.

Ao comprar um BDR, o investidor não está adquirindo uma ação da companhia, mas, sim, um certificado (ou recibo) de ações dessa empresa. Há duas formas para que esses papéis cheguem ao mercado brasileiro: pelos BDRs Patrocinados ou Não Patrocinados.

No primeiro caso, as próprias empresas decidem listar seus recibos na bolsa brasileira. Já no segundo, são bancos nacionais que emitem os recibos das ações que são negociados na B3 e os colocam em uma conta que guarda esses ativos.

Vale lembrar que os BDRs são ativos de renda variável, ou seja, podem se valorizar ou desvalorizar conforme os movimentos do mercado. Para investir neles, é essencial que você saiba antes qual o seu perfil de investidor.

Essa dinâmica entre mercado interno e externo pode causar dúvidas ou interpretações erradas sobre o funcionamento do BDR. A seguir, Gustavo Peres de Carvalho, diretor operacional do Banco B3, e Arthur Vieira, professor da B3 Educação e sócio do Clube FII, listam alguns dos mitos e verdades mais comuns sobre o ativo. Confira!

Mito: BDR é uma ação

Apesar de ter funcionamento similar, o BDR não é uma ação, mas um recibo de uma ação. Esse recibo é listado na B3, e os investidores podem comprar e vender esses papéis na B3, por meio de uma corretora ou banco.

É importante saber que, quando você investe em um BDR, tem praticamente os mesmos direitos que uma pessoa que compra uma ação diretamente, como o recebimento de dividendos.

Bônus: BDRs de ETFs

Além dos BDRs de ações, existem os BDRs de ETFs. São instrumentos que permitem que os brasileiros invistam em fundos listados em bolsas internacionais, sem sair do Brasil. Com eles, é possível diversificar sua carteira em um único ativo – já que o ETF em si tem uma carteira diversificada.

Existem BDRs de ETFs com foco em diferentes geografias (como China, América Latina, Europa, EUA, Argentina), setores (como indústria, tecnologia, agronegócio), e classes de ativos (como renda fixa, renda variável, criptomoedas).

Verdade: investir em BDR pode ser mais vantajoso do que comprar a ação de uma empresa estrangeira

Alguns investidores podem se perguntar: “por que adquirir o recibo se posso comprar a ação de uma empresa estrangeira?”. Acontece que os BDRs têm vantagens em relação a comprar ações lá fora.

Em primeiro lugar está a maior facilidade em adquirir o BDR, já que não é preciso enviar remessas de dinheiro ao exterior, o que demandaria a intermediação especializada em operações financeiras desse tipo.

Além disso, ao comprar um BDR na B3, o investidor não precisa fazer uma remessa internacional – e assim, não precisa pagar o IOF nessa operação de câmbio.

Por fim, o BDR tem tratamento idêntico ao da ação no exterior. Isso quer dizer que se uma empresa paga dividendos no exterior, então seus BDRs no Brasil também distribuirão lucros aos investidores.

Mito: BDR é só para quem tem muito dinheiro

Desde outubro de 2020, é permitido a qualquer investidor pessoa física investir em BDRs. Com isso, o investimento em empresas estrangeiras ficou mais fácil e democrático. Segundo Arthur Vieira, da B3 Educação, hoje é possível comprar um BDR a partir de R$ 50.

Mito: É muito caro investir em empresas no exterior

Arthur Vieira esclarece que as taxas cobradas na negociação de BDRs são as mesmas das de ações de empresas nacionais.

E há uma vantagem adicional para quem investe em BDR. “Quem decide investir diretamente em ações estrangeiras paga duas vezes o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF): quando faz a remessa de dinheiro para a conta no exterior e quando recebe os proventos. Com os BDRs, só há uma cobrança, quando há conversão em real dos dividendos”, explica Arthur.

+ Como investir no exterior sem sair da B3?

Mito: BDR não é regulado no mercado brasileiro

Por se tratar de um ativo lastreado no mercado internacional, muitos pensam que o BDR não possui regulação no Brasil. Mas não é bem assim. Além da Resolução CVM 182, que regula a atuação dos bancos que emitem os recibos e as instituições que guardam os ativos, a Lei n° 6.385 reconhece o BDR como valor mobiliário (títulos de investimento), mesmo status de ações e debêntures.

Verdade: BDR tem risco de mercado

Assim como ações, os BDRs são papéis de renda variável e podem se valorizar e desvalorizar de acordo com os movimentos do mercado. No caso dos BDRs, o preço vai refletir também os movimentos do câmbio.

“Para saber se o BDR se adequa ao seu perfil de investidor, as pessoas devem recorrer às corretoras, que possuem meios de analisar a tolerância a riscos de cada um, sugerindo os produtos mais adequados a seus diferentes clientes”, afirma Gustavo.

Outro meio de minimizar os riscos é contar com o auxílio de algum profissional como um consultor de valores mobiliários.

Verdade: BDR paga dividendos

Assim como ações, BDRs dão ao investidor o direito a receber dividendos. “Nesse ponto, há o mesmo tratamento da ação no mercado externo”, observa Gustavo. “Porém, o pagamento de dividendos varia de acordo com a empresa.”

Isso porque, pela legislação dos EUA, as empresas não são obrigadas a distribuir dividendos quando registram lucro. Logo, se receber dividendos é seu objetivo, vale a pena checar a política de distribuição de proventos de cada empresa antes de investir em seus BDRs.

Mito: BDR é dolarizado

Segundo Arthur Vieira, professor da B3 Educação, “é um mito dizer que o BDR é dolarizado, pois seu preço pode sofrer influências de outras moedas, dependendo da origem da empresa que dá lastro ao recibo”.

Entretanto, como a maioria dos BDRs são de empresas negociadas na bolsa americana, seus preços estão sob a influência das flutuações do dólar.

“É importante ter a noção de que o BDR é negociado em real e seu valor corresponde ao da ação negociada na bolsa dos EUA ou de outro país. O investidor deve entender que seu retorno é um balanço entre a valorização das ações e as variações no câmbio”, conclui Arthur.

Mito: o investidor pode perder seus BDRs

É um erro dizer que o BDR tem risco de crédito – o risco do banco emissor de BDRs não honrar seu compromisso com os investidores e dar um “calote”. Isso não acontece por dois motivos:

  • As ações administradas pelo banco brasileiro não fazem parte de seu patrimônio; o banco administra os papéis das empresas estrangeiras que são lastro para os BDRs em uma instituição custodiante. Com isso, os ativos não ficam atrelados ao patrimônio do banco.
  • Regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) protegem o investidor do risco de ficar sem seus papéis em caso de quebra do banco emissor. “É importante lembrar que o BDR fica registrado em nome do investidor final”, afirma o executivo da B3.

Mito: BDR é isento de imposto de renda

Diferente do Brasil, no exterior há cobrança de imposto de renda sobre os dividendos, e essa cobrança costuma ser feita na fonte. Nos EUA, por exemplo, os dividendos têm imposto de renda de 30%. No caso do BDR, além do imposto, pode haver desconto também de uma taxa da instituição que guarda o ativo, que costuma variar entre 3% a 5%.

No Brasil, os dividendos pagos pelos BDRs são considerados rendimentos recebidos de fontes no exterior, e podem estar sujeitos ao imposto de renda de acordo com a tabela progressiva.

Caso o investidor brasileiro venda o BDR nos mercados de bolsa no Brasil, pagará 15% de IR sobre os lucros obtidos. É possível, ainda, compensar perdas em outras operações de renda variável e descontar a corretagem paga.

Leia a reportagem completa no site do B3 Bora Investir, parceiro de IstoÉ Dinheiro.