21/08/2002 - 7:00
Bernard Ebbers, um sujeito interiorano que gostava de trabalhar usando botas, chapéus e cintos afivelados, tornou-se um herói do capitalismo americano ao criar uma das maiores empresas de telefonia dos Estados Unidos, a WorldCom. Bernie, como é chamado pelos amigos, só caiu em desgraça quando se descobriu que a WorldCom lhe fazia empréstimos pessoais. Sua empresa pediu concordata e Ebbers hoje é persona non grata nos salões econômicos americanos.
Corte para o Brasil. Antônio Beldi, controlador do grupo Splice, de Sorocaba, foi a maior surpresa da privatização da telefonia brasileira. Partindo de um grupo relativamente pequeno, ele arrematou a TCO, uma das maiores companhias de telefonia celular do Brasil, com 2,7 milhões de clientes nas regiões Centro-Oeste e Norte e um faturamento da ordem de R$ 1,5 bilhão. Mas, nesta semana, Beldi protagonizou um negócio que fez com que o mercado o comparasse a Bernie Ebbers. A TCO decidiu comprar a dívida da Splice, sua controladora. Trata-se de um papagaio de R$ 660 milhões. Veja bem: a Splice controla a TCO com 18% do capital total, mas todos os acionistas da operadora pagarão pela compra de uma dívida que é só do sócio controlador. Resultado: as ações caíram 16,1% na quarta-feira 14 e outros 14,8%, um dia depois. Desde junho, o valor de mercado da TCO evaporou em R$ 700 milhões. ?É a WorldCom brasileira?, disse Waldir Corrêa, presidente da Associação Nacional dos Acionistas Minoritários. Corrêa já tratou do caso com Luiz Leonardo Cantidiano, presidente da Comissão de Valores Mobiliários, e irá também levá-lo à Securities Exchange Comission, dos Estados Unidos, e à Agência Nacional de Telecomunicações. ?Trata-se de abuso de poder e gestão temerária; por isso, temos de barrar essa operação?, afirma. DINHEIRO também teve acesso ao relatório de um grande banco de investimentos, que passou a recomendar a venda das ações da TCO e aponta um prejuízo potencial de R$ 1 bilhão para os acionistas.
Entre os minoritários, quem tem a maior participação é a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, com 5% das ações ordinárias e 3% dos papéis sem direito a voto. Para quem não se lembra, a Previ envolveu-se em brigas homéricas em torno da Telemig Celular e da Brasil Telecom. Curiosamente, a Previ chegou até a estudar uma associação com a TCO para ter o controle da Telemig. Resta ver se agora a fundação terá o mesmo empenho para recuperar o dinheiro perdido na própria TCO. Procurado pela DINHEIRO, Antônio Beldi, da Splice, não retornou as ligações para comentar o caso.