20/06/2022 - 6:47
O governo da Bélgica restituiu nesta segunda-feira a parentes o último resto mortal – um dente – do herói independentista da República Democrática do Congo, Patrice Lumumba, em um passo para encerrar um capítulo sombrio de seu passado colonial.
O promotor belga Frederic Van Leeuw entregou a familiares de Lumumba uma pequena caixa azul que continha um dente – tudo que restou do herói assassinado – em uma cerimônia transmitida pela televisão
O funcionário disse que as ações judiciais adotadas para receber a relíquia permitiram avançar no sentido da justiça.
“Eu agradeço pelas medidas legais que tomaram porque sem estas medidas não estaríamos onde estamos hoje. Isto permitiu que a justiça de nosso país possa avançar”, disse Van Leeuw.
O dente deveria ser colocado em um caixão e levado para a República Democrática do Congo, que celebra Lumumba como um herói nacional na luta contra o colonialismo belga.
No final do período colonial belga no Congo, Lumumba formou o primeiro governo independente, mas o país passou a ser ameaçado de maneira imediata por um movimento secessionista na região de Katanga, apoiado pela Bélgica.
Depois de não conseguir o apoio da ONU para conter o movimento de secessão, Lumumba foi preso e executado em janeiro de 1961 ao lado de dois colaboradores. Os corpos nunca foram encontrados.
No ano 2000, um ex-policial belga, Gerard Soete, confessou à AFP sua participação na execução de Lumumba e afirmou que os corpos do herói independentista e de seus colaboradores foram dissolvidos em ácido.
“Não restou quase nada, apenas alguns dentes”, acrescentou Soete, que faleceu pouco depois do depoimento. Ele guardou um dos dentes, que permaneceu durante anos em poder de sua família na Bélgica como um troféu.
Este é o dente que foi restituído à família de Lumumba.
A República Democrática do Congo anunciou que organizará um luto nacional pela chegada e enterro dos restos mortais, de 27 a 30 de junho, coincidindo com o 62º aniversário da independência.
A família de Lumumba iniciou em 2011 um processo na Bélgica para obter explicações sobre as condições do assassinato do líder independentista.
Em 2002, o governo belga pediu desculpas por seu papel no assassinato.