23/11/2020 - 10:02
Um retrato e roupas de menina apareceram nesta segunda-feira (23) em frente a um tribunal da cidade belga de Mons no início do julgamento de um policial responsável pela morte de Mawda, uma menina curda iraquiana de dois anos baleada durante uma perseguição em 2018.
O policial, cuja identidade não foi oficialmente revelada e que parece estar em liberdade, é julgado junto a dois curdos iraquianos que estão em prisão preventiva: o motorista da van onde estavam Mawda e seus pais, e o suposto contrabandista que pretendia levá-los à Inglaterra.
O caso ocorreu na noite de 16 de maio de 2018, em uma estrada de Valonia, ao sul de Bruxelas, quando uma van que transportava cerca de trinta imigrantes tentava escapar de um controle policial e era perseguida por uma patrulha.
Como o veículo não foi interrompido, um dos policiais usou sua arma para colocar o braço para fora da janela e tentar atirar no “pneu dianteiro esquerdo” da van repleta de imigrantes.
No entanto, por causa de uma guinada brusca, o disparo alcançou a cabine da van que tentava escapar. No interior, a bala atingiu a cabeça da menina Mawda, que viajava justamente atrás do motorista.
Pouco tempo depois, a menina morreu em uma ambulância.
No julgamento, o agente (um técnico de informática que se tornou policial) admitiu ter usado sua arma para tentar parar o veículo, mas acrescentou que não sabia que havia migrantes a bordo. Disse também sentir-se “devastado” pela morte de Mawda.
“Carregar a imagem de ser responsável pela morte de uma criança é absolutamente assustador”, disse à AFP seu advogado Laurent Kennes, que afirmou que o policial pegou sua arma a pedido de um colega que estava na patrulha.
Na abertura do julgamento, na frente do tribunal era possível escutar gritos de “Justiça para Mawda!”. Também havia roupas de menina penduradas em uma corda, junto a um cartaz que dizia: “Não se esqueça, nem perdoe”.
O pai de Mawda, vestido de preto, se recusou a falar com a imprensa. Ao seu lado, seus advogados reiteraram seu pedido de reclassificação dos fatos para que seja rotulado como “homicídio doloso”.
“Pegar uma arma e disparar contra uma van cheia de migrantes não é apenas uma falta de precaução. Não podemos minimizar isso a este ponto”, disse uma das advogadas, Selma Benjelifa.