A união entre a Deutsche Börse e a Nyse Euronext, anunciada na terça-feira 15, vai criar o maior mercado acionário do mundo. A Nyse Euronext controla as bolsas de Nova York e alguns pregões europeus, como os da França, Bélgica, Holanda e Portugal. A Deutsche Börse reúne os mercados alemães. 

A transação envolverá uma troca de ações avaliada em US$ 10 bilhões. Está sendo chamada de fusão entre iguais, embora o predomínio da nova empresa vá ficar com os alemães, que terão 60% das ações e dez dos 17 assentos no conselho. 

 

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Compras e vendas: Sede da Nyse: notícia estimula ofertas de Londres e de Cingapura

 

A piada que circulava no dia do anúncio era que Wall Street iria mudar seu nome para Wall Strasse (rua, em alemão). Reto Francioni, principal executivo da Deutsche Börse, será o presidente do conselho da nova bolsa. 

 

O executivo-chefe será Duncan Niederauer, hoje presidente do conselho da Nyse. Ambas vão formar um ambiente de negociação que gira US$ 100 bilhões por dia em média e reúne 20 mil empresas listadas que valem cerca de US$ 20 trilhões – mais de seis vezes o Produto Interno Bruto brasileiro. 

 

Esse negócio é o maior de uma série e outros vão se seguir. Em 2007, os dois maiores mercados de commodities e derivativos do mundo, ambas vizinhas em Chicago, mesclaram-se na CME. 

 

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Mudança de controle: Duncan Niederauer (à dir.) será o executivo-chefe da nova bolsa,

da qual os alemães terão 60% das ações e maioria no conselho

 

A bolsa alemã tentou fundir-se com a de Londres em 2007, sem sucesso. Para evitar o isolamento, Londres anunciou sua intenção de fundir-se com a de Toronto na primeira semana de fevereiro. 

 

Há seis meses os pregões de Cingapura e da Austrália estão tentando destravar sua fusão, que vem emperrando na resistência das autoridades australianas. A movimentação entre os diversos mercados acionários segue a tendência natural de consolidação do sistema financeiro, em que as empresas unem esforços em busca de escala e redução de custos.

 

Tanta animação chegou ao Brasil. Na mesma terça-feira, a Bats, terceira maior bolsa americana, anunciou que está estudando lançar aqui uma plataforma de negociação, liquidação e custódia em parceria com a gestora de fundos Claritas. 

 

“Nosso objetivo é quebrar o monopólio da BM&FBovespa. Vamos criar um mercado com preços competitivos, tecnologia rápida e serviços mais eficientes”, disse Ken Conklin, vice-presidente da Bats à DINHEIRO de seu escritório em Kansas City. 

 

 A notícia da chegada da Bats provocou uma forte oscilação nas ações da BM&FBovespa, que caíram 4,7% no dia da divulgação. O que assustou os investidores foi a perspectiva de entrada de um concorrente para disputar as polpudas margens de lucro em um mercado dominado pela Bovespa. 

 

Cada vez que um investidor compra ou vende uma ação, as corretoras arcam com custos de aproximadamente R$ 6,00. Uma alternativa mais barata poderia drenar esses recursos, preocupação que Edemir Pinto, principal executivo da empresa, descarta.

 

Há razões para a preocupação? Sim e não. A concorrência terá de suar muito a camisa para estabelecer-se por aqui. Segundo Otávio Yazbek, diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), teoricamente não há impedimento legal para a vinda da Bats. 

 

“Não é impossível, mas não será fácil”, diz ele. Há dificuldades técnicas devido às diferenças entre os mercados. Nos Estados Unidos, as corretoras e bancos de investimento não precisam identificar às autoridades quem está comprando e vendendo ações. “A regra brasileira é justamente o oposto”, diz Yazbek. 

 

A ausência dessa identificação já provocou muitos problemas em Wall Street, pois permite distorções e mesmo fraudes, cujo melhor exemplo foi a pirâmide montada pelo gestor de fundos Bernard Maddof, que desabou em dezembro de 2008. 

 

Uma eventual aquisição hostil do controle acionário da bolsa também não seria simples. A BM&FBovespa é uma empresa de controle pulverizado entre cerca de 100 mil acionistas, 40% deles estrangeiros. 

 

O maior sócio é a americana CME, que possui 5,1% das ações. O que a impede de, discretamente, comprar mais ações nos Estados Unidos e anunciar um dia que assumiu o controle? De novo, as regulamentações da CVM. 

 

Segundo Yazbek, a aquisição de uma parcela das ações maior que 15% do capital tem de ser aprovada pela CVM. Sem o carimbo da autarquia, não sai negócio. Para obtê-lo é preciso se comprometer a manter a bolsa funcionando no Brasil, entre outras obrigações. 

 

As regras para eventuais participantes do mercado, como bancos, corretoras e distribuidoras de valores, é ainda mais estrita. “Quem usar os serviços da bolsa está proibido de comprar mais de 10% do capital para evitar conflitos de interesse”, diz Yazbek. 

 

Colaborou  Juliana  Schincariol

 

 

“Já temos um concorrente fortíssimo”

 

O tom de voz de Edemir Pinto, principal executivo da BM&FBovespa, muda quando se comenta o monopólio da empresa que dirige. “Não temos monopólio”, diz ele. “Quem diz isso não conhece o mercado.” 

 

Segundo o executivo, o volume transacionado das ações da Petrobras e da Vale na bolsa de Nova York equivale a todo o movimento da Bovespa. Edemir diz que as tarifas cobradas pela bolsa decorrem das exigências legais sobre segurança das transações e transparência das informações, algo que não ocorre nos Estados Unidos. 

 

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“Os mercados são totalmente diferentes, com características distintas”, diz. Por isso, não é possível comparar os custos daqui com os internacionais. A eventual chegada de um concorrente não o preocupa. 

 

“Enfrentamos todos os dias um concorrente fortíssimo, chamado Nyse e que fica em Wall Street”, diz. “Se outro mercado se estabelecer por aqui será apenas um concorrente a mais. Que venha.”