Na visão do fundador e presidente do conselho de administração da XP Inc, Guilherme Benchimol, o Brasil precisa fazer o ‘dever de casa’ para amenizar o cenário caótico em termos de macroeconomia e dar fôlego para o Banco Central (BC) cortar juros – e então abrir as portas para mais investidores estrangeiros e um maior volume de capital alocado em investimentos de maior risco.

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Benchimol avalia que o país precisa implementar uma agenda de redução de impostos e tributos e que o contexto atual faz de 2025 ‘um ano bem difícil’. Apesar disso, ainda entoa bastante otimismo com relação ao cenário de renda variável, citando que vê um ‘Brasil muito barato’ e com múltiplos atrativos para investidores.

“A gente vai ter um ano bem difícil. Difícil acreditar que o Brasil consegue incrementar seus investimentos com uma taxa de juros tão elevada. [Selic a] 15% ao ano é uma taxa que deixa o dinheiro muito caro no país. Então a gente está um pouco cético em relação ao crescimento econômico nesse ano. A parte boa é que os preços estão muito atrativos, mas é fundamental que tenhamos um governo que faça o dever de casa sob o ponto de vista fiscal”, afirma.

“Temos uma carga tributária de aproximadamente 39% do PIB, G7 tem 37% e países emergentes na faixa dos 25%. O Brasil tem que ir na linha de cortar impostos e ter impostos mais eficientes”, complementa o empresário, que participou do Suno Invest, que ocorreu em São Paulo neste domingo, 29.

O fundador da XP ainda acrescenta que ‘um país sem investimentos não é saudável a longo prazo’ e que espera uma inflação ‘mais calma e mais leve’ nas próximas leituras.

Segundo Benchimol, esse cenário, somado a ajustes nas contas públicas, abriria caminho para o BC cortar a Selic – atualmente em 15%, o maior patamar para os últimos 19 anos.

Investidor estrangeiro quer câmbio estável, diz Benchimol

Até o fim do mês de maio, o investidor estrangeiro foi responsável por uma entrada líquida de R$ 21,52 bilhões na bolsa de valores. O mês de maio em específico registrou a maior entrada mensal de capital estrangeiro desde dezembro de 2019, com R$ 10,66 bilhões.

Nesse contexto, o fundador da XP frisa que o que o estrangeiro quer é um cenário mais estável em termos de câmbio, com maior previsibilidade.

Assim, diz que o fiscal também é uma variável de extrema importância e que pode atrair ou afasta investidores.

“Em relação ao capital estrangeiro, esse investidor sempre busca um câmbio estável no qual ele consiga fazer conta no longo. Não adianta ele entrar no Brasil e comprar uma empresa muito boa em Real, ela se valorizar em alguns anos mas o câmbio se desvalorizar na proporção que ele ganhou no país”, analisa.

“Acima de tudo precisamos de contas públicas confiáveis, para que esse investidor faça sua conta. Sem previsibilidade no cenário não temos investidores entrando no país”, conclui.

O Brasil iniciou o ano com um câmbio acima de R$ 6, todavia nos últimos meses tem mantido uma oscilação em uma faixa mais estreira, entre R$ 5,40 e R$ 5,60.

XP quer fazer mais do mesmo, mas melhor

Questionado sobre o futuro da XP, o fundador destacou que a companhia segue com a sua missão de popularizar investimentos ’em um país com a maior concentração bancária do mundo’.

A visão do presidente do conselho é de que a companhia, já consolidada, deve direcionar os esforços em uma melhora qualitativa dos produtos e serviços.

“Hoje temos aproximadamente R$ 1,3 trilhão. Nosso foco é fazer mais do mesmo, mas melhor. Foco é melhorar a qualidade dos serviços”, diz Benchimol.