A famosa grife italiana Benetton completou recentemente 40 anos e promoveu em Paris uma festa com toda pompa e circunstância a que tem direito. Luciano Benetton, fundador e comandante do grupo, não economizou na organização de um desfile exclusivo ? o primeiro de sua marca ? e de um show multimídia no Centre Pompidou. A euforia em torno da data, entretanto, não evitou que surgissem sinais de que sua aposentadoria está a caminho. Durante a celebração, rumores se espalharam dando conta de que Luciano, 71 anos, renunciará ao cargo de presidente do conselho em 2007. Alessandro Benetton, um de seus quatro filhos, deve assumir o comando do império que ostenta o título de maior fabricante de roupas da Itália. Oficialmente, a direção do grupo ? dono de uma receita de 898 milhões de euros no primeiro semestre de 2006 ? não se pronuncia sobre a transferência do cetro, mas não nega que a mudança acontecerá. Alessandro, 42 anos, formado em Ciências e com MBA da Harvard Business School, é dono da 21 Investimenti, especializada em levantar fundos para promover aquisições empresariais. Desde 1998, ele está envolvido nos negócios da família, quando entrou para o quadro de diretores do Benetton Group. E no ano passado assumiu a vice-presidência executiva da companhia.

A mudança promete intensificar o trabalho da expansão da empresa, processo que ganhou novo impulso a partir de 2003, ano em que Luciano e seus irmãos Giuliana, Gilberto e Carlo (também fundadores) decidiram sair da administração executiva e trazer gerentes profissionais para atuar no grupo. Naquele ano, a Benetton contratou um de seus principais executivos, Silvano Cassano, que passou a acelerar as entregas às lojas e transferiu algumas produções para fora da Itália ? para a Turquia, por exemplo ? com o intuito de reduzir custos. A manobra tem dado certo. A receita líquida do grupo nos primeiros seis meses de 2006 teve um aumento de 56 milhões de euros, em comparação ao mesmo período em 2005. Ou seja, um crescimento de 6,7%. ?Tenho a firme convicção de que nossas perspectivas para o futuro são de constante crescimento?, diz Luciano.

As palavras do pai são corroboradas pelo filho. Alessandro, o futuro presidente, já anunciou que planeja abrir fábricas e 250 lojas na China, um dos mercados em que está de olho. A data de largada desse ambicioso projeto, porém, ainda não foi aventada. De todo modo, a Benetton tem como meta aumentar as vendas em até 8% por ano ao longo da próxima década. O grupo tem o vestuário como carro-chefe dos negócios. Dentro desse segmento, ela engloba as marcas United Colors of Benetton, Sisley, Playlife e Killer Loop. São cerca de 115 milhões de peças de roupa produzidas anualmente.

 

Determinação não falta ao futuro comandante da marca. Ele se inspira no exemplo de vitória que tem em casa. É casado com Deborah Compagnoni, campeã italiana de esqui na neve que conquistou seis medalhas de ouro em campeonatos mundiais e olimpíadas. ?Os esportes ensinam precisão, disciplina e concentração; fatores cruciais também na vida profissional?, comenta Alessandro, esquiador nas horas vagas. ?A prática me levou a testar meus limites sem nunca ir longe demais. E me mostrou também que sempre se deve ter um segundo plano, em caso de problemas?, completa.

Apesar da ambição de conquistar novos mercados, ainda não foi divulgada uma estratégia para a grife voltar a ganhar espaço no Brasil. Presente atualmente em 120 países, a Benetton perdeu representatividade no mercado brasileiro por não ter uma operação própria no País. Mas a grife, famosa por sua malharia em tricô, deixou marcas entre os consumidores brasileiros. Quem não se lembra das audaciosas campanhas publicitárias que chocaram os anos 80 e 90 com fotos clicadas por Oliviero Toscani? A parceria com Toscani chegou ao fim, mas a decisão de transformar as imagens visuais em principal veículo de comunicação da grife permaneceu firme e forte. O período de estampar em outdoors o memorável e polêmico beijo entre um padre e um freira ou um paciente de Aids deu lugar a um celeiro de talentos bancado pela Benetton. O grupo criou em 1994, na Itália, o projeto Fabrica, espécie de laboratório no qual jovens de vários países do mundo podem exercitar sua criatividade em áreas como fotografia, design, cinema e música. É de lá que saem as novas campanhas da grife. Com a aposentadoria de Luciano, só resta saber quando Alessandro vai comandar todas as vertentes do colorido mundo da United Colors of Benetton, que vai muito além da roupa de lã.

? 898 milhões Foi a receita obtida pelo grupo no primeiro semestre de 2006

115 milhões é o número de peças que a Benetton produz ao ano