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Nos últimos 10 anos, diversos fantasmas atormentaram o empresário Benjamin Steinbruch, principal acionista da Companhia Siderúrgica Nacional. Primeiro, diziam que a CSN era um negócio grande demais para ser digerida pela Vicunha, o grupo têxtil controlado pelos Steinbruch e seus sócios, os Rabinovich. Depois, apostavam que ele sucumbiria frente à pressão pelo descruzamento acionário com a Vale do Rio Doce, outro investimento de Steinbruch. Por fim, no final do ano passado, afirmavam que a siderúrgica não suportaria a pesada dívida que manchava seu balanço. A cada vez que um desses espectros mostrava o ar da graça, Steinbruch respondia: ?Os números vão falar pela CSN?. Em 2003, finalmente os indicadores da empresa assumiram o papel de porta-voz reservado por Steinbruch. No ano em que a economia patinou, patinou e não saiu do lugar, a CSN apresenta um balanço de causar inveja a qualquer capitão da indústria brasileira. Nos nove primeiros meses de 2003, a receita líquida encostou nos R$ 5 bilhões, 43% a mais do que no mesmo período do ano anterior. O resultado, então, saltou do lado vermelho para o azul. Em 2002, o prejuízo superou R$ 570 milhões. Neste ano, de janeiro a setembro, o lucro somou R$ 716 milhões. Nesse período, a CSN tornou-se uma máquina de fazer dinheiro. A geração de caixa atingirá US$ 1 bilhão no final do ano. O lucro superará, em muito, essa cifra. São esses números vistosos que conduziram Steinbruch ao posto de Empreendedor do Ano da DINHEIRO.

 

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HOBBY E INVESTIMENTO: Uma de suas paixões, a criação de cavalos Haflinger se transformou numa forma de ganhar dinheiro

Foi uma reviravolta surpreendente. E surpreendente é a reação de Steinbruch diante dela. O homem que, segundo alguns adversários, tinha ?ambição demais e humildade de menos? apresenta uma modéstia inédita. ?Eu não fiz nada?, diz ele. ?Apenas coloquei em prática aquilo que meu pai sonhou e começou a construir.? A referência paterna é recorrente nas conversas com Steinbruch. O relacionamento com o pai, Mendel, morto há alguns anos, é marcado por lances de admiração e conflitos. ?Eu competia muito com ele?, admite Steinbruch. ?Todas as decisões eram excessivamente discutidas, desgastantes. Mas ele era um gênio e tinha a grandeza de permitir esse tipo de concorrência.? Logo após a privatização, Mendel, por exemplo, se opôs a entregar a presidência da CSN ao filho. O posto ficou com o Bamerindus, um dos sócios na ocasião. ?Eu queria a posição?, lembra Steinbruch. ?Mas ele percebeu que eu não estava preparado, embora eu pensasse o contrário.?

 

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SÍMBOLO NACIONAL: Criada no governo de Vargas, a CSN se
tornou a mais
valorizada siderúrgica
do País em 2003

 

Entre teares. Hoje, aos 50 anos, Steinbruch repete a receita do pai quando o assunto é o relacionamento com os filhos. Quando era menino ele vivia metido entre os teares da Elizabeth, a empresa que deu origem ao grupo Vicunha. ?Ali adquiri a necessidade de respirar a produção?, afirma. Agora, volta e meia, ele carrega os quatro filhos junto em viagens de negócios no Brasil e no exterior. ?Troquei muita fralda de criança.? Vitória, a filha mais velha atualmente com 11 anos, o acompanha desde os 3 anos e, juntos, visitaram Estados Unidos e Alemanha. ?Ela conheceu até o Fernando Henrique?, diz ele. ?Foi dessa forma que adquiri responsabilidade e disciplina.? Steinbruch também garante que se inspirou no pai nos momentos mais agudos da crise em que a CSN mergulhou no final do ano passado. A empresa carregava uma dívida de US$ 2,1 bilhões, cujo prazo médio era inferior a um ano. Cerca de 85% desse montante tinham bancos como credores. Uma fusão com a inglesa Corus, anunciada meses antes, não saíra do papel. Havia um clima de desalento entre os principais executivos. A recuperação levaria pelo menos três anos. ?Vamos fazê-la em um ano?, disse Steinbruch em uma reunião com 500 funcionários da empresa, realizada na fábrica da CSN, em Volta Redonda, em abril deste ano.

 

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ALTO-FORNO EM MANUTENÇÃO: Investimento de
US$ 1,5 bilhão
aumentará ainda mais
a produção da usina

 

O corte de custos foi radical. Cerca de 500 empregados foram demitidos. A tesoura também atingiu os executivos. Os seis diretores, Steinbruch inclusive, perderam o direito a motoristas e viagens em primeira classe. Até os gastos com treinamento passaram por uma dieta. Outras fontes de receita foram reforçadas. Nos últimos anos, a mina de Casa de Pedra deixou de ser uma fornecedora exclusiva da CSN. Hoje, das 16 milhões de toneladas de ferro extraídas dali, 9 milhões destinam-se a terceiros. O restante é vendido ao mercado. O mercado externo também contribuiu. As exportações nos primeiros
nove meses de 2003 somaram R$ 1,7 bilhão, mais do que os R$ 1,4 bilhão registrados
em todo ano passado.

As vendas externas poderiam gerar mais dinheiro, caso o dólar não tivesse recuado ao longo do ano. Mas o câmbio também jogou a
favor da CSN. A maior parte de suas dívidas está em dólar e com a valorização do real os custos financeiros diminuíram. Steinbruch aproveitou o bom momento e tratou de alongar o perfil do endividamento. Hoje, o prazo médio subiu para 4,5 anos e 65% dos débitos estão nas mãos do mercado. O prazo irá se dilatar ainda
mais. O Citibank está organizando a emissão de US$ 500 milhões em títulos de 10 anos para investidores estrangeiros. No último lançamento de US$ 400 milhões, segundo Steinbruch, houve uma demanda de quase US$ 1,2 bilhão. ?O mercado está sedento por papéis de nossa companhia?, orgulha-se ele.

A dinheirama reforçará ainda mais um caixa já fornido, onde está depositado US$ 1 bilhão. São recursos com endereço certo. Nos próximos cinco anos, a CSN pretende investir US$ 1,5 bilhão ? do aumento de capacidade produtiva da usina à recuperação, em parceria com o governo federal, da Companhia Ferroviária do Nordeste, uma rede de 4,8 mil quilômetros que se estende de Alagoas ao Maranhão. No meio do caminho, Steinbruch planeja concretizar outra de suas metas: dobrar o valor da companhia até 2005. Hoje, a CSN vale US$ 3,5 bilhões a preço de mercado. Nenhuma outra siderúrgica brasileira se valorizou tanto neste ano.

 

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ÍDOLO E ORIENTADOR: O pai,
Mendel, é o exemplo sempre
citado. ?Apenas concretizei
o sonho dele?, diz Steinbruch

 

E depois, quais os planos do cinqüentão Steinbruch? Entre eles, certamente está o adiado mas não abandonado sonho da internacionalização. Neste momento, Steinbruch e sua equipe acompanham o processo de privatização de uma siderúrgica na Hungria. ?Nas próximas semanas, decidiremos se vamos disputá-la?, diz ele. Negócios com a inglesa Corus também não estão descartados. ?Não deu certo naquele momento, mas as portas continuam abertas?, afirma. ?Seremos um grupo forte em quatro setores: siderurgia, mineração e logística?, prevê. E a quarta? ?Essa é segredo, mas será na área de indústria de base. O importante é continuar trabalhando?, diz ele.

 

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CASA DE PEDRA: A mina tornou-se fonte de receita para a CSN

 

Isso, no dicionário de Steinbruch, significa chegar antes das nove da manhã ao escritório da CSN, localizado em um conjunto de torres junto à marginal do rio Pinheiros, em São Paulo. E nunca sair antes das 22 horas. Nem mesmo seus hobbies escapam de sua obsessão pelo trabalho. Steinbruch é criador de cavalos Haflinger. Passatempo? Bem, nem tanto. ?São excelentes para crianças?, explica Steinbruch. ?Por isso, têm se valorizado e podem render um bom dinheiro.? Realmente são animais menores e mais dóceis do que os de outras raças, embora menos comportados. Um deles mastigou um pedaço do paletó de Steinbruch enquanto o empresário posava para uma sessão de fotos. ?Perdi o paletó?, queixou-se ele. ?Por isso, não posso parar de trabalhar.?