30/01/2025 - 11:08
Encravada entre montanhas cafeeiras, Berlim, o centro do bitcoin em El Salvador, está repleta de entusiasmo com a chegada de Donald Trump à Casa Branca: “Estamos ansiosos por bons momentos”, diz Marcela Flores, funcionária de uma cafeteria que aceita a criptomoeda.
“Bem-vindo à Bitcoin Berlin, aqui você vive com bitcoin”, diz uma placa na entrada dessa pitoresca cidade localizada 110 km a leste de San Salvador, onde a presença de bitcoiners estrangeiros e locais cresceu no último ano, antes concentrada apenas na praia de El Zonte (sudoeste).
Lojas, hotéis, mercearias, bares, restaurantes, postos de gasolina… mais de cem empresas operam com essa criptomoeda em Berlim, com uma população de cerca de 18.000 habitantes.
“Com a eleição de Trump (…) esperamos que o bitcoin cresça”, o que gerará “mais empregos, mais renda”, disse Flores, 43 anos, à AFP, enquanto servia uma xícara de café aromático a um cliente. No balcão, há um porta-guardanapos em forma de “B”.
O primeiro país do mundo a adotar o bitcoin como moeda de curso legal junto com o dólar em 2021, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, um apoiador de Trump, é o maior promotor da criptomoeda.
Recentemente, ele disse estar convencido de que, com Trump, haverá “uma valorização exponencial” do bitcoin, que está sendo negociado a cerca de US$ 100.000 (mais de 600 mil reais).
Trump, que busca impulsionar as criptomoedas, prometeu em sua campanha tornar os Estados Unidos “a capital mundial do bitcoin e das criptomoedas”.
– “Viver” de bitcoin –
Gerardo Linares, 32 anos, decidiu deixar San Salvador em 2023 para se estabelecer em Berlim com a ideia de promover o uso do bitcoin e “educar” comerciantes e clientes para ele.
Agora a cidade tem um “Centro Comunitário Bitcoin”, onde Linares e outros realizam oficinas de treinamento e gravam podcasts.
“Fizemos algum barulho nas redes sociais (e) os estrangeiros começaram a chegar”, disse Linares à AFP no centro comunitário, cuja fachada anuncia aulas de inglês e informática e o uso do bitcoin.
Cerca de 20 cidadãos da França, Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Irlanda vieram morar na cidade e estão ajudando no projeto.
“Eu vivo em um padrão bitcoin: sou pago em bitcoin (…) e gasto 95% do meu dinheiro em bitcoin aqui”, disse à AFP o francês Quentin Ehrenmann, 28 anos, que chegou em outubro de 2023.
O irlandês Charlie Stevens, 28 anos, que estudou matemática e trabalhou na Espanha, destaca a liberdade com que as transações em bitcoin funcionam “sem que ninguém saiba”.
– Desconectando-se” das pessoas
Berlim tem um clima frio e atrai muitos turistas nos fins de semana. Em seu parque central, Julio Cruz, de 53 anos, vende artesanatos coloridos, como um papagaio verde de madeira, em cujo bico está pendurado um “B”.
“Tem sido uma boa experiência, muito positiva, acreditamos que o bitcoin é a solução para alcançar nossa independência econômica, no futuro teremos melhores resultados”, disse ele.
Mas o otimismo em Berlim contrasta com a maior parte do país. Uma pesquisa publicada este mês pela Universidade Centro-Americana (UCA) revelou que 92% dos salvadorenhos não usaram bitcoin em 2024.
“As autoridades continuam a insistir (no bitcoin) como uma aposta em questões econômicas, mas vemos uma desconexão com o que as pessoas pensam sobre o criptoativo”, diz Laura Andrade, diretora do Instituto de Opinião Pública da UCA.
Na quarta-feira, o Congresso aprovou reformas na lei que regulamenta o uso do bitcoin para tornar seu uso no setor privado voluntário e não mais obrigatório.
O economista César Villalona diz que o bitcoin é instável e serve apenas “para especulação”.
Mesmo assim, muitos em Berlim estão confiantes de que haverá um “boom” nessa criptomoeda este ano… e também na cidade, tendo em vista que o projeto de Bukele de criar a Bitcoin City, uma cidade moderna que seria a capital dos bitcoiners no país, não se concretizou.
Por enquanto, o nome Berlim está escrito em toda a cidade com o “B” de bitcoin.