16/05/2025 - 8:36
Cooperação entre Alemanha e Reino Unido quer desenvolver armas de precisão de grande alcance. Meta do pacto é incrementar proteção da Europa contra ataques externos.O chanceler federal alemão, Friedrich Merz, estabeleceu a ambiciosa meta de tornar as Forças Armadas da Alemanha Bundeswehr “as mais fortes da Europa”, logo em suaprimeira declaração de governo no Bundestag, o Parlamento alemão. “Devemos poder nos defender para que não tenhamos que nos defender”, enfatizou o novo chefe de governo com relação à ameaça representada pela Rússia, ressaltando que isso deve ocorrer em estreita coordenação com os parceiros europeus.
A Alemanha já vem investindo nessas parceiras e uma delas foi firmada com o Reino Unido. A cooperação militar foi selada no segundo semestre do ano passado com um acordo que ambos os países celebraram como “histórico”: o chamado Trinity House Agreement.
Esse acordo recebeu o nome do local em Londres onde o pacto foi assinado pelo então ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, e seu colega britânico, John Healey. Nunca antes houve um acordo desse tipo entre os dois países. Healey viajou para Berlim nesta quinta-feira (15/05) para concretizar os planos conjuntos.
Metas estratégicas comuns
O Reino Unido, que é uma potência nuclear, não é mais membro da União Europeia (UE), mas é um forte parceiro militar dentro da Otan, que compartilha interesses comuns com a Alemanha. “O Reino Unido também está fortemente envolvido nas áreas geográficas que são importantes para a Alemanha, ou seja, nos países bálticos, no extremo norte, mas também parcialmente no flanco oriental da Otan”, enfatiza Ben Schreer, chefe do escritório de Berlim do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS).
É nesse ponto que os dois países agora querem unir forças, por exemplo, para proteger o Atlântico Norte e o Mar do Norte. Não apenas importantes rotas de comércio marítimo passam pelo Mar do Norte, mas também gasodutos e cabos que transportam eletricidade das grandes instalações offshore para a costa.
Após a suspeita de ataques russos a cabos submarinos no Mar Báltico, os especialistas em segurança temem ataques semelhantes no Mar do Norte. Os dois países querem neutralizar essa possiblidade com “um quadro claro e abrangente da situação submarina”, conforme o texto do pacto.
Operações conjuntas com submarinos e aeronaves de reconhecimento marítimo também fazem parte desse plano. No futuro, as aeronaves alemãs de patrulha marítima P-8A Poseidon ajudarão a monitorar, a partir da Escócia, o espaço aéreo sobre o Atlântico Norte. A Bundeswehr encomendou novas aeronaves desse tipo, e o Exército britânico já as está usando, possibilitando que as tripulações alemãs já possam treinar no local.
“Essas aeronaves de reconhecimento marítimo de longo alcance podem combater submarinos em longas distâncias”, enfatizou o ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, após o encontro com seu colega britânico. Ele ressaltou que, assim, os dois parceiros estão fortalecendo conjuntamente as capacidades da Otan de interceptação de submarinos no Atlântico Norte e no Mar do Norte.
Mísseis de longo alcance
Os dois países têm um forte setor de defesa e também há planos de cooperação nessa área. Por exemplo, a empresa de defesa alemã Rheinmetall fabrica o veículo de transporte blindado Boxer em suas fábricas no Reino Unido, do qual o Exército britânico encomendou 500 unidades.
Um dos principais elementos do acordo é o desenvolvimento conjunto de armas de precisão com um alcance de mais de 2 mil quilômetros, ao qual outros países europeus também podem aderir.
Outra área de cooperação é o desenvolvimento de drones armados. A Bundeswehr tem déficits nessa área e só está começando a adquirir drones de combate menores este ano. O Exército britânico, por outro lado, tem muitos anos de experiência operacional nessa área, da qual a Bundeswehr poderia se beneficiar.
Sistemas compatíveis
Os dois países também querem cooperar em projetos envolvendo caças do futuro – pelo menos até certo grau. Isso porque a Alemanha está desenvolvendo um novo sistema junto com a França e a Espanha, enquanto o Reino Unido está desenvolvendo um sistema diferente junto com a Itália e o Japão.
“Do ponto de vista europeu, faz todo o sentido estabelecer pelo menos a interoperabilidade, para que os dois sistemas também possam trabalhar juntos em futuras missões conjuntas”, enfatiza o especialista em segurança Ben Schreer.
Com isso, ele toca em um ponto que é um problema na Europa: há muitos sistemas de armas diferentes, alguns dos quais não são compatíveis entre si. “Precisamos de padrões comuns e de uma simplificação dos sistemas na Europa”, afirmou Merz logo após assumir o cargo.
Em um momento em que os países europeus da Otan têm que arcar com um fardo maior na defesa, a cooperação entre a Alemanha e o Reino Unido pode servir como um sinal. Schreer diz que ela é uma iniciativa que pode servir como um complemento para outras formas de cooperação, como a que existe entre a Alemanha e a França.
“A questão interessante é saber se o Reino Unido estará disposto e será capaz de contribuir para a defesa da Europa. E isso, é claro, levanta algumas questões críticas, especialmente no que diz respeito ao orçamento de defesa do Reino Unido, onde grandes aumentos provavelmente se tornarão cada vez mais difíceis.”