Após um processo eleitoral caótico em Berlim em 2021, o Tribunal Constitucional Federal da Alemanha determinou nesta terça-feira (19/12) que vários distritos da capital terão que repetir a votação federal daquele ano, que elegeu membros do Bundestag, o Parlamento do país.

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Devido a múltiplos erros na votação em vários locais, os eleitores de 455 distritos eleitorais de Berlim terão que retornar às urnas, mais de dois anos após as eleições. O número representa um quinto das 2.256 zonas eleitorais da cidade-estado.

A decisão do Supremo alemão vem após uma disputa entre o partido União Democrata Cristã (CDU), da ex-chanceler federal Angela Merkel, e a coalizão governista federal encabeçada pelo Partido Social Democrata (SPD) sobre quantos distritos teriam que repetir a votação.

Os 455 determinados pelo Tribunal Constitucional representam 31 distritos a mais do que o decidido pelo Bundestag no ano passado, mas ainda um número muito abaixo do que os 1.200 distritos que a CDU vinha defendendo.

A nova eleição federal foi marcada para 11 de fevereiro – último domingo antes do prazo legal. Como a coalizão de governo do chanceler federal Olaf Scholz tem uma maioria clara no Bundestag, o equilíbrio de poder no Parlamento não deve ser alterado com o novo pleito. Contudo, alguns parlamentares podem perder seus assentos.

Votação caótica

Berlim realizou quatro votações em 26 de setembro de 2021: além da federal, ocorreram também as eleições distritais e a estadual, além de um referendo sobre expropriação de grandes empresas imobiliárias.

Embora não tenha havido denúncias de fraudes, os desafios logísticos claramente provaram ser grandes demais para muitas seções eleitorais: houve relatos generalizados de atrasos e irregularidades que violaram a legislação eleitoral.

Algumas cédulas eleitorais acabaram, outras mostravam candidatos errados ou foram fotocopiadas às pressas, enquanto algumas seções eleitorais tiveram que ser fechadas durante o dia ou permaneceram abertas por mais tempo do que deveriam. Houve relatos de mesários que permitiram a entrada de eleitores que apenas queriam votar nas eleições federais.

Uma brecha permitiu que menores inelegíveis votassem nas eleições locais e federais usando uma cédula pelo correio ordenada por alguém com 18 anos ou mais, e as cédulas enviadas pelo correio para diferentes eleições tiveram que ser colocadas em um único envelope.

O fato de Berlim também ter sediado sua maratona internacional no mesmo dia, dificultando o acesso a algumas seções eleitorais, exacerbou o caos. Como resultado, o principal funcionário eleitoral de Berlim renunciou alguns dias após o pleito.

Eleições locais já foram refeitas

O caos no pleito de 2021 já havia levado à anulação das eleições locais pelo Tribunal Constitucional de Berlim em novembro de 2022. Foi a primeira vez que uma eleição local na Alemanha foi declarada inválida por questões organizacionais.

Se a repetição da votação federal não deverá ter grande efeito, o mesmo não aconteceu com as eleições locais. Quando os eleitores voltaram às urnas em fevereiro de 2023, a conservadora CDU obteve a maioria dos votos, dando fim à coalizão de esquerda que governava a cidade-estado, formada por SPD, A Esquerda e Partido Verde.

ek (DW, AFP, DPA, Reuters, ots)