A Amazon fechou um contrato para um investimento no aplicativo de delivery Rappi que pode ser convertido na compra de uma fatia da empresa, segundo informações divulgadas pela Bloomberg.

O Rappi afirmou que não irá comentar o tema oficialmente. A Amazon respondeu que “não comenta rumores ou especulações”. Segundo a Bloomberg, o valor assinado foi de US$ 25 milhões.

Não é a primeira aproximação das duas empresas — no México, clientes do serviço de streaming Amazon Prime contam com entrega grátis no Rappi. O aplicativo colombiano também já é cliente da Amazon Web Services (AWS), plataforma de serviços de computação em nuvem de Bezos.

De acordo com a reportagem da Bloomberg, a gigante do varejo criada por Jeff Bezos poderá com esta jogada controlar até 12% da plataforma de entregas colombiana e avançar assim sua atuação no delivery na América Latina.

Amazon vai ser dona do Rappi?

O acordo ocorreu através de uma operação financeira de nota conversível, uma espécie de empréstimo em que a expectativa é, eventualmente, receber parte das ações da empresa como pagamento. Segundo o advogado Fernando Canutto, sócio do Godke Advogados, o mecanismo ajuda a testar a entrada em um setor, inclusive perante as autoridades.

“Quando empresas desse porte fazem movimentos estratégicos, sempre há a possibilidade de análise mais aprofundada por parte das autoridades. O objetivo é verificar se há concentração de mercado ou práticas que possam limitar a concorrência”, explica Canutto.

Em meio a uma disputa acirrada no setor de delivery, a notícia deve ter impactos muito em breve na avaliação do especialista. “Essa movimentação tende a pressionar concorrentes a reverem estratégias e ampliarem investimentos em tecnologia, logística e serviços financeiros”, diz. “Estamos diante de uma operação que pode redesenhar o mercado.”

Disputas no varejo e no delivery

A iniciativa poderá ajudar a Amazon a fazer frente à gigante Mercado Livre, atual líder do e-commerce na América Latina, e à Shopee, que chegou há pouco tempo e com grande força na região. Para efeito de comparação, ambas ocupam mais galpões de logística no Brasil do que a empresa de Bezos, além de contabilizarem mais acessos de brasileiros em seus sites.

Para além do Brasil, o Rappi atua em nove países da América Latina. “Ao se associar à empresa, a Amazon ganha acesso a uma rede logística que seria custosa e demorada para desenvolver do zero, acelerando sua competitividade no setor” e “sem assumir integralmente os riscos regulatórios e operacionais da região”, analisa o advogado Eduardo Brasil, do Fonseca Brasil Advogados.

Já o Rappi contará com apoio para se consolidar como líder no setor de entregas de artigos diversos. Recentemente, a empresa anunciou a venda em sua plataforma de roupas da marca Insider no Brasil, e contou para a IstoÉ Dinheiro planos de expandir ainda mais seu portfólio.

A parceria pode trazer ao Rappi novas ferramentas também em sua corrida para crescer em entregas de comida pronta. A empresa anunciou este ano R$ 1,4 bilhão em investimentos neste segmento. Em menos de um mês, outras duas companhias fizeram comunicados similares: a 99Food apresentou um plano de R$ 1 bilhão, e a Meituan, de R$ 5,6 bilhões. Atualmente, a líder do setor no país, com 80% do mercado, é a brasileira iFood.

“Para o brasileiro, é um movimento bom”, avalia Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos. “A situação não está equilibrada em termos de ser benéfica para o consumidor e para o grande fornecedor hoje do serviço, que é o iFood. Essa concorrência então é muito boa para o consumidor final, que deve ver os serviços ficando melhores.” O especialista destaca como a chegada dos novos players já pressionou por uma queda de tarifas para os estabelecimentos de comida.

“Para a Rappi, o aporte vai além do aspecto financeiro”, adiciona o advogado Eduardo Brasil, que destaca os ganhos reputacionais oferecidos pela Amazon. “O endosso de uma big tech como a Amazon fortalece sua narrativa de crescimento, sobretudo no momento em que a empresa avalia realizar um IPO (abertura de capital). O investimento agrega não apenas liquidez, mas também reputação e perspectiva de escalabilidade tecnológica”, diz Brasil.