25/06/2003 - 7:00
Quem mora nos grandes centros urbanos do País já topou com uma banca de camelô vendendo toda sorte de mercadorias. Tênis, brinquedos, roupas, eletrônicos e imitações de perfumes de grifes sofisticadas sempre estiveram entre os produtos preferidos por eles. O camelô (ou marreteiro) é a parte mais visível de um esquema que movimenta R$ 50 bilhões por ano no Brasil. Há dois anos, contudo, eles decidiram incluir em sua lista itens de baixo valor unitário como canetas, isqueiros e pilhas. Atingiram em cheio a francesa BIC. A empresa sentiu o golpe e resolveu reagir. Juntou-se a outras notórias vítimas (Philip Morris, Nike, Souza Cruz, Henkel e Louis Vuitton) para fundar o Brand Protect Group, programa que tem por objetivo ferir de morte o contrabando. Além de treinar fiscais da alfândega e agentes da Polícia Federal, a companhia também arca com os custos para a destruição dos produtos. Pelas contas do presidente da BIC, Edgar Hernandez, apenas a venda de isqueiros falsos rende R$ 30 milhões por ano aos piratas. Nem
mesmo a criação de um selo holográfico foi capaz de deter esta
máfia. ?Estamos entre a espada e a parede?, lamenta Hernandez. Apesar do problema, ele garante que não cogita deixar o País. O
Brasil representa 8% das receitas mundiais da companhia, que
fatura US$ 1,6 bilhão no mundo. ?É um mercado estratégico do
qual jamais pensamos em abrir mão?, garante Hernandez. O exe-
cutivo ressalta que a criatividade dos bandidos não tem limite.
É possível ver no mercado isqueiros das marcas Bjc e BIK para confundir os consumidores.
O Brand Protect Group, uma espécie de Swat privada, é, na verdade, uma parceria das empresas com a estrutura legal e de segurança já existente. As companhias contratam detetives e escritórios de advocacia para mapear os locais de maior incidência de venda de produtos falsificados. De posse deste levantamento, o grupo entra em contato com a polícia, que faz a apreensão. O trabalho das empresas inclui ainda seminários e treinamento para agentes alfandegários e polícias federais. ?Estamos fazendo a nossa parte?, diz Hernandez. A ação já não era sem tempo. Apesar do baixo valor de revenda (R$ 2), os isqueiros dão um grande lucro à cadeia que se alimenta do crime organizado. Quem fabrica os produtos falsificados escapa do custo de 62% em impostos e quem revende tem ganho de até 150% em relação ao produto original. Não foi por outro motivo que a direção da BIC passou a acompanhar ?com lupa? também o mercado de canetas esferográficas. O principal problema ocorre na importação com preço subfaturado: menos de um centavo de dólar por unidade. Como o Imposto de Importação, de 21%, incide sobre o valor declarado, a caneta chega com preço artificialmente menor. ?É o importabando?, ironiza Hernandez. No ano passado, entraram no País cerca de 240 milhões de canetas neste sistema, o que forçou a BIC a adotar medidas drásticas: ?Fechamos a unidade de Cabreúva, demitimos 120 funcionários e concentramos a produção na fábrica de Manaus, onde são feitos isqueiros e aparelhos de barbear?, conta.
Também neste caso a companhia não escapa das cópias ilegais.
?Nos últimos 12 meses já foram apreendidas 3 milhões de canetas falsificadas?, avalia. Ele calcula que os governos estadual e federal deixaram de arrecadar R$ 93 milhões em impostos, por conta da manobra com a importação de canetas. Apesar dos problemas, o presidente da BIC se diz confiante. As vendas, que somaram R$ 196 milhões em 2002, deverão crescer 5% este ano. A rentabilidade, no entanto, permanecerá em um patamar de 2,5%, nível muito inferior aos 12% apurados em 1998. A diferença, assinala Hernandez, foi engolida pelos falsificadores e contrabandistas