Quarta-feira é dia agitado para o arquiteto paulista Aref Farkouh. Ele concilia o comando de sua empresa de construção civil com uma rodada de reuniões na diretoria da Federação das Indústrias de São Paulo. Mas não há cansaço que o faça desistir de um prazeroso compromisso ao final da jornada. Às 20 horas, ele troca o terno e a gravata pela bermuda e o capacete. Reúne-se aos amigos e pedala duas horas pelas ruas da capital paulista. Farkouh participa dos passeios noturnos. É uma paixão que já deixou a metrópole, ganhou a estrada e percorreu trilhas de norte a sul do País. Ao ritmo dos ventos, rodou o litoral da Bahia e as montanhas de Minas Gerais. Na companhia de um forte aliado, o filho Tiago, de 16 anos, invadiu a Califórnia e pelo menos 50 quilômetros da Toscana, na Itália. ?Entre uma pedalada e outra, tenho esporte, aventura, amizade e turismo?, resume. Farkouh é uma espécie de profissional que, sob duas rodas, cresce no Brasil. São executivos que transformaram as pedaladas e o contato com a natureza em modo de vida.

?Foi-se o tempo que viagem de bicicleta era atividade de mochileiro?, diz Paulo Tarso, dono da Sampa Biker?s, empresa especializada em passeios turísticos com as magrelas. Os engravatados são maioria nessa nova fase. Há uma explicação: longe dos tombos da infância, os ciclistas ganharam um aliado, o conforto. Bicicletas que chegam a custar R$ 27 mil, entre os modelos importados, ancorados no dólar, ostentam tecnologia de carros de Fórmula 1. Nas viagens internacionais, os chamados ?cicloturistas? se hospedam em hotéis 5 estrelas quando põem as pernas para cima. Mas o primeiro indício de que se vive uma era diferente brota na hora de comprar uma bicicleta. A bicicletaria dos nossos avós ganhou versão de boutique. Na loja paulista Pedal Power, por exemplo, o cliente é atendido por ciclistas profissionais. A equipe está capacitada para orientar na escolha do modelo. Antes de fechar a compra, o cliente terá ainda dicas de treinamento e pode começar a escolher os acessórios. Luvas, óculos, capacetes, tênis e bolsas têm variações para todos os gostos. E para todos os bolsos, é claro. Um quite básico pode variar de R$ 500 a R$ 5 mil.

Depois de equipado, basta escolher o roteiro. Pelas trilhas nacionais, um dos programas favoritos é o que ficou batizado como ?Caminho do Descobrimento?, que percorre o litoral sul da Bahia. Esforço, apenas na bicicleta. Carro e equipes de apoio se encarregam de garantir segurança e conforto. Enquanto o ciclista sente o ar no rosto e exercita o corpo, as suas bagagens os aguardam em hotéis e resorts de qualidade espalhados pelo caminho. No exterior, a moda é conciliar o prazer das pedaladas com intervalos nos roteiros gastronômicos da Itália e França e paisagens de tirar o fôlego no deserto do Atacama, no Chile. Os roteiros europeus podem ser contratados pela representante no Brasil da empresa canadense Butterfield & Robinson. O preço? Pelo menos US$ 10 mil por uma semana. É caro. Mas mesmo que a conta bancária não permita, agora, extravagâncias como essa, há um consolo: diz o ditado que quem aprende a pôr uma bicicleta em pé, jamais esquece. Basta voltar a pedalar.