O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ofereceu nesta quarta-feira (5) uma mensagem de unidade ao estado da Flórida, devastado pelo furacão Ian, durante uma visita ao reduto do governador republicano Ron DeSantis, um de seus críticos mais ferozes.

“Vocês têm a minha promessa, e a promessa dos Estados Unidos, de que não vamos abandoná-los. Acompanharemos vocês ao longo deste processo e isto levará muito tempo”, afirmou o presidente americano aos moradores da Flórida.

Atrás do presidente estava o governador DeSantis, com cara de poucos amigos. “Somos gratos pelo trabalho realizado em conjunto em vários níveis de administração”, limitou-se a dizer o político republicano.

Representante da direita radical, DeSantis aparece entre os nomes cogitados para ser o candidato republicano nas eleições presidenciais de 2024, ou seja, como um rival potencial de Biden, que já manifestou sua intenção de concorrer à reeleição.

– Categoria 4 –

Impactada na quarta-feira da semana passada pelo Ian como furacão de categoria 4, a Flórida continua contando os mortos e analisando os danos causados por uma das tempestades mais potentes que já passaram pelos Estados Unidos.

DeSantis e sua esposa, Casey, receberam Joe e Jill Biden com apertos de mãos assim que os dois chegaram a Fort Myers, onde o furacão tocou terra e causou os maiores estragos.

O casal presidencial já tinha sobrevoado em helicóptero as regiões afetadas.

Não muito longe dali, uma máquina terminava de retirar os escombros de uma casa destruída pelo vento, enquanto trabalhadores faziam reparos em uma linha de transmissão de energia.

Fiel à sua natureza empática, Biden apertou as mãos e abraçou seus interlocutores.

A Casa Branca, que decretou o estado de emergência há uma semana, antes que o furacão causasse devastação, prometeu financiar integralmente, durante dois meses, todos os custos relacionados à remoção de escombros e às obras urgentes de reconstrução.

– 76 mortos –

O balanço oficial era de 76 mortos na terça-feira (72 na Flórida e quatro na Carolina do Norte), mas os meios de comunicação contabilizam mais de uma centena de mortos, enquanto os socorristas continuam trabalhando nos bairros cobertos por água.

Em Fort Myers, a visita do presidente não foi bem recebida por todo o mundo. Tina, dona de um restaurante-bar ainda sem abastecimento de água, manifestou sua frustração à AFP.

“Por que não vêm com um avião cheio de geradores [elétricos] e cisternas de água ao invés de virem apenas para se exibir para as câmeras?”

Centenas de milhares de moradores da Flórida permaneciam sem eletricidade e as autoridades afirmaram que serão necessários meses e 50 bilhões de dólares, talvez mais, para reconstruir as regiões costeiras devastadas.

Tracey Gore, moradora de Fort Myers de 51 anos, disse que ficou feliz ao ver Biden e DeSantis unindo seus esforços: “É o mais importante. Não se trata de política neste momento, mas de vidas humanas.”

Diante dos jornalistas, o presidente democrata declarou: “Temos posições políticas muito diferentes, mas trabalhamos juntos.”

– Linha dura –

Defensor da linha dura contra a imigração e bastante conservador sobre assuntos sociais, o governador da Flórida costuma ser um assunto recorrente com suas declarações e decisões polêmicas.

Recentemente, reivindicou o envio de dois aviões com migrantes para a luxuosa ilha de Martha’s Vineyard, no nordeste do país, uma “manobra política” que a Casa Branca classificou de “cruel”.

DeSantis também impulsionou em março uma lei que proíbe o ensino sobre a identidade de gênero e a orientação sexual nas escolas públicas de ensino fundamental, uma medida que, segundo os seus críticos, poderia trazer prejuízo aos jovens da comunidade LGBTQIA+.

Durante a visita de Biden à Flórida também estava presente um dos senadores republicanos mais críticos ao presidente: Rick Scott, considerado pelo líder democrata como mais uma representante da “extrema” direita.

Durante muito tempo, a Flórida era vista como um estado que oscilava entre democratas e republicanos, mas agora parece estar se inclinando fortemente para a direita.

O ex-presidente Donald Trump venceu nesse estado nas eleições de 2016 e de 2020, e as pesquisas apontam para uma reeleição tranquila de DeSantis em novembro.