11/04/2022 - 18:37
O presidente Joe Bien e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, tiveram nesta segunda-feira (11) uma conversa “franca” sobre a crise na Ucrânia durante uma cúpula virtual, em um momento em que Washington vê-se frustrado com a posição neutra de Nova Délhi em relação à invasão russa.
A conversa de uma hora foi “afetuosa e produtiva”, declarou uma funcionária da Casa Branca, mas não houve indícios de mudanças significativas rumo a uma postura comum sobre o conflito.
A Índia anda na corda bamba para manter relações com o Ocidente e evitar isolar a Rússia, e não impôs sanções pela invasão.
Esta posição preocupa Washington, principalmente pelo fato da Índia seguir comprando petróleo e gás russo, apesar da pressão de Biden para que os líderes mundiais adotem uma linha dura contra Moscou.
Mesmo assim, a funcionária esclareceu que não houve “perguntas concretas e respostas concretas” sobre as importações de energia durante a reunião. “Não acreditamos que a Índia deva acelerar ou aumentar as importações de energia russa e os Estados Unidos estão dispostos a ajudá-la a ‘diversificar’ as importações”, completou.
Biden começou a reunião elogiando a “profunda conexão” entre os dois países. Modi classificou a situação na Ucrânia como “muito preocupante”, além de lembrar que a Índia apoia as negociações russo-ucranianas e oferece ajuda médica a Kiev.
A estatal Oil Corp. comprou pelo menos três milhões de barris de petróleo da Rússia desde o início da invasão, em 24 de fevereiro, desafiando o embargo das potências ocidentais.
Biden e Modi não concordaram em condenar conjuntamente a invasão russa na última vez que conversaram no início de março em uma reunião da chamada aliança “Quad” entre Estados Unidos, Índia, Austrália e Japão.
A Índia absteve-se de votar na semana passada a suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos na Assembleia Geral da ONU, que acusa Moscou de promover massacres de civis na Ucrânia.
– Resposta “instável” –
Os Estados Unidos já alertaram que qualquer país que ajudar ativamente a Rússia a eludir as sanções internacionais sofrerá “consequências”.
A ameaça não impediu a Índia de trabalhar com a Rússia em um mecanismo de pagamento de rúpias e rublos para que a Rússia possa cumprir suas obrigações comerciais existentes, apesar das sanções impostas ao Kremlin.
Biden disse em 21 de março que a Índia era uma exceção entre os aliados de Washington com sua resposta “instável” à ofensiva russa.
Durante a Guerra Fria, a Índia inclinou-se para a União Soviética, em parte devido ao apoio dos Estados Unidos ao arquirrival, o Paquistão.
Em 1962, a Índia comprou seus primeiros aviões de combate russos MiG-21 e, de acordo com especialistas, a Rússia segue sendo o maior provedor de armas para Nova Délhi, que também é o maior cliente de Moscou.
O ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, que reuniu-se com Modi em Nova Délhi no início de abril, elogiou a Índia por sua resposta ao conflito e, em particular, por julgar “a situação em sua totalidade, não somente de maneira unilateral”.
Biden e Modi também falaram de como acabar com a pandemia de covid-19, da mudança climática e de reforçar a segurança da democracia na região Ásia-Pacífico, onde a Índia é vista como um contrapeso fundamental para lidar com a China.
O último confronto entre os exércitos chinês e indiano na Linha de Controle, na fronteira do Tibete e na região indiana de Ladakh, eclodiu em junho de 2020. Na última quinta-feira, a Índia alegou ter frustrado um ataque cibernético de hackers chineses contra sua rede elétrica.
Biden foi acompanhado pelo secretário de Estado, Antony Blinken, e pelo secretário de Defesa, Lloyd Austin, que também realizou uma reunião virtual com seus colegas indianos na segunda-feira.
As duas partes podem elevar o comércio bilateral de US$ 113 bilhões em 2021 para US$ 500 bilhões.
No entanto, outro ponto de discórdia provavelmente surgirá: a compra pela Índia do sistema de defesa antimísseis S-400 da Rússia, que viola a proibição americana de países que assinam acordos de defesa com Rússia, Irã ou Coreia do Norte.
Os Estados Unidos sancionaram a China em 2018 por comprar o sistema.