13/04/2022 - 20:31
Joe Biden chama o presidente russo, Vladimir Putin, de “criminoso de guerra” e “açougueiro” que não deveria “permanecer no poder”, e agora o considera culpado de genocídio, classificações cada vez mais duras, que pegam desprevenidos seus aliados e colaboradores.
Quando o presidente dos Estados Unidos se dirigiu nesta terça-feira (12) ao local onde estavam os jornalistas que o esperavam antes de seu retorno a Washington, após uma visita ao estado de Iowa, surgiu uma pergunta: “Você acredita que Vladimir Putin comete um ‘genocídio’ na Ucrânia?”
Um pouco antes, durante um discurso sobre inflação e biocombustíveis, o comandante em chefe dos Estados Unidos usou pela primeira vez o termo genocídio.
“O orçamento de sua família, sua capacidade para encher a dispensa, nada disso deveria depender de um ditador que declara guerra e comete genocídio do outro lado do mundo”, disse.
Rapidamente, a Casa Branca avisou aos jornalistas que haveria um esclarecimento. Contudo, mais tarde, Biden manteve sua posição: “Sim, eu disse genocídio.”
No entanto, esclareceu que “os advogados, a nível internacional”, decidirão sobre a qualificação de genocídio, que o direito internacional define como um “crime cometido com a intenção de destruir no todo, ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”. Porém, logo antes de embarcar, Biden insistiu novamente: “Para mim, parece [genocídio].”
Até poucos dias atrás, funcionários americanos garantiam que seria “muito difícil” qualificar em nível jurídico as “atrocidades” atribuídas às tropas russas como “genocídio”.
O Departamento de Estado americano também resistia a se pronunciar, até que defendeu Biden hoje. “Vou prever que do que o presidente Biden chamou é, em última análise, o que provavelmente iremos encontrar quando conseguirmos reunir todas essas evidências”, declarou Victoria Nuland, número três do departamento, à rede de TV CNN.
Foi o presidente americano que despontou como principal acusador do chefe de Estado russo.
As tropas russas sofrem acusações de crimes de guerra desde o início da invasão em 24 de fevereiro, especialmente depois da descoberta recente de centenas de civis que supostamente foram assassinados em Bucha, uma cidade próxima a Kiev e reconquistada pelo exército ucraniano.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, elogiou no Twitter as “palavras verdadeiras de um líder verdadeiro”. Por outro lado, a reação do Kremlin foi totalmente distinta, ao considerar “inaceitável qualquer tentativa de distorcer a situação dessa forma”.
– ‘Indignação’ –
Em 16 de março, Biden chamou Putin de “criminoso de guerra” e, dias depois, de “carniceiro”, em comentários breves e espontâneos para a imprensa.
Biden também surpreendeu sua equipe e seus aliados de Washington quando disse em Varsóvia em 26 de março que Putin “não pode permanecer no poder”.
Enquanto seu comboio se dirigia até o aeroporto da capital polonesa, a Casa Branca improvisou um esclarecimento que se apressou a distribuir entre os jornalistas para garantir que não, que Washington não estava pedindo uma mudança de regime na Rússia.
Mais tarde, o próprio Biden explicou que, com suas palavras, queria expressar “sua indignação”.
Sobre o uso dos termos “criminoso de guerra” e “genocídio”, ele disse o mesmo, que expressa sua sensação e deixa as conclusões jurídicas para outros.
Isso não é algo de se estranhar vindo de Biden, pois, em vários temas, e não só internacionais, ele “fala do coração” e não contém seu temperamento emotivo.
Mesmo que isso signifique desestabilizar seus aliados. Na última quinta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, que já havia criticado o uso do termo “carniceiro”, se recusou a classificar o que acontece na Ucrânia de “genocídio”.
“É uma loucura o que está acontecendo, uma brutalidade assombrosa […] mas, ao mesmo tempo, olho para os fatos e quero tentar, ao máximo, continuar sendo capaz de deter esta guerra e reconstruir a paz, assim que não estou convencido de que a espiral verbal sirva de ajuda”, disse Macron.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, também preferiu afastar-se da polêmica, dizendo que tratava-se de “uma guerra terrível” na qual foram cometidos “crimes de guerra”.
Já o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, viu como “correto” definir o ocorrido na Ucrânia como genocídio.
“A escalada verbal não ajuda necessariamente a causa” da busca por uma saída negociada na Ucrânia, ressaltou um diplomata europeu.
Com essas reações que causam indignação em Moscou, o presidente americano também tenta “responder” à “pressão” do Congresso americano, que o empurra para aumentar seu apoio à Ucrânia e para endurecer o tom com Vladimir Putin, acrescentou o diplomata.
Como Joe Biden já descartou enviar soldados à Ucrânia, apenas lhe restam os envios de armas a Kiev, e suas palavras.