14/07/2024 - 19:19
Medida vem após questionamentos ao Serviço Secreto, que só deteve atirador depois dos primeiros disparos. “Por favor: não tirem conclusões precipitadas. Deixem o FBI fazer seu trabalho”, pediu democrata.O presidente americano Joe Biden ordenou neste domingo (14/07) uma revisão independente dos procedimentos de segurança do FBI, o serviço secreto dos Estados Unidos, após seu oponente e candidato à Casa Branca, Donald Trump, ser alvo no dia anterior de um atentado durante um comício na Pensilvânia.
Como ex-presidente, Trump tem direito a proteção vitalícia pelo Serviço Secreto. Ele também havia recebido proteção extra por ser o provável candidato republicano – a candidatura só será oficializada de fato na segunda-feira, durante a Convenção Nacional do Partido Republicano, em Milwaukee, Wisconsin, à qual Trump já anunciou que comparecerá.
Biden disse também ter ordenado ao FBI a revisão de todo o esquema de segurança planejado para a convenção.
Atirador estava a 150 metros de Trump
Ferido de raspão na orelha por um tiro, Trump foi, em questão de segundos, cercado por agentes do Serviço de Segurança, que o levaram ao chão para protegê-lo. Após verificar seu estado e reerguê-lo, os agentes o retiraram do palanque e o escoltaram até um veículo.
“Fui atingido por uma bala que perfurou a parte superior de minha orelha direita”, escreveu o republicano em sua plataforma Truth Social. “É incrível que um ato assim possa ocorrer em nosso país”, acrescentou.
Em entrevista à BBC, uma testemunha afirmou ter visto o atirador antes das forças de segurança e que policiais ignoraram os avisos. O homem, armado com um rifle, estava posicionado em um telhado a menos de 150 metros do palanque onde Trump discursava e teria feito diversos disparos antes de ser neutralizado pelas forças de segurança.
Agora, o Serviço Secreto investiga como o atirador, de 20 anos, conseguiu chegar tão perto de Trump.
Um representante do FBI, Kevin Rojek, disse no sábado ser “surpreendente” que um atirador tenha sido capaz de atirar contra o palanque antes de ser morto.
À agência de notícias AP, agentes ouvidos sob a condição de anonimato disseram que havia equipes de snipers e contra-ataque no local do evento.
Biden pede a americanos que não se entreguem a especulações
O presidente americano pediu aos americanos que não se entreguem a especulações sobre os motivos do atirador, e assegurou que o FBI está trabalhando para concluir as investigações o mais rápido possível.
“Eu peço a todos, todos, por favor: não tirem conclusões precipitadas sobre os motivos ou filiação [política do atirador]. Deixem o FBI e as agências parceiras fazerem o seu trabalho”, afirmou Biden.
O democrata frisou que o atentado contra Trump, que deixou ainda um apoiador morto e outros dois gravemente feridos, é “contrário a tudo que nós representamos como país”. “Não há lugar para esse tipo de violência na América, ou para qualquer violência que seja.”
Biden fará um pronunciamento à nação diretamente do Salão Oval, na Casa Branca, às 20h deste domingo (21h de Brasília). Mais cedo, ele já havia dito que ele e a primeira-dama, Jill Biden, estavam rezando pela vítima que morreu no comício e que estavam verdadeiramente gratos por Trump “estar bem e se recuperando”.
Políticos no Congresso pressionam por investigação
O deputado republicano Mark E. Green, presidente do Comitê de Segurança Interna da Câmara, enviou neste domingo uma carta ao Secretário de Segurança Interna Alejandro Mayorkas contendo uma série de perguntas sobre o tiroteio no comício de Trump e exigindo informações sobre a proteção do Serviço Secreto ao ex-presidente.
“A seriedade dessa falha de segurança e o momento aterrorizante na história de nossa nação não podem ser subestimados”, escreveu Green na carta.
O deputado argumenta que há sérias perguntas sobre como o “atirador foi capaz de acessar um telhado dentro do alcance e linha de visão direta de onde o presidente Trump estava discursando”.
Green também mencionou relatos de que o Serviço Secreto teria recusado pedidos da campanha de Trump por segurança adicional – um porta-voz do Serviço Secreto, Anthony Guglielmi, disse neste domingo que as alegações eram “absolutamente falsas” e que o órgão havia destinado recursos e tecnologia adicionais à medida em que as viagens de campanha foram se intensificando.
O comitê chefiado por Green exige que Mayorkas entregue informações e documentos que mostrem o plano de segurança de Trump para o dia do atentado, bem como sobre eventuais ajustes, como foi feito o controle de público no dia do comício e como foi o briefing do FBI depois do tiroteio.
Também republicano, o deputado Mike Turner, de Ohio, questionou em entrevista à CNN “como é possível que alguém consiga subir num telhado […], com uma arma, e tente assassinar o ex-presidente Donald Trump”. “É impensável, inconcebível. Precisamos saber: é uma falha de protocolo? É uma questão de recursos? Ou é apenas uma falha daqueles que estavam no local naquele dia?”
“A culpa está em algum lugar na psique da América”
Já o deputado Mike Kelly, que representa a área onde Trump discursou e que estava sentado atrás do ex-presidente quando o atentado ocorreu, pediu aos seus colegas republicanos que deixem os órgãos de segurança fazerem seu trabalho e que não politizem o caso.
Kelly, que levou esposa e netos ao evento, disse à AP estar “perplexo sobre como e o que aconteceu com os Estados Unidos”, e pediu aos americanos que reflitam sobre como cada um pode fazer a diferença para trazer mais civilidade ao discurso político.
“Eu só gostaria que as pessoas… Baixassem o tom”, disse. “Parem de tentar encontrar, de culpar alguém. A culpa está em algum lugar na psique da América.”
ra (AP, Reuters)