O presidente Joe Biden concluiu nesta sexta-feira (10) sua Cúpula da Democracia promovendo os Estados Unidos como defensores dos valores democráticos no mundo, mas recebeu duras críticas da China e da Rússia, excluídas da reunião, e também internamente.

“Estamos afirmando os valores democráticos que estão no cerne de nosso sistema internacional e que têm sido os elementos fundamentais, durante décadas, do crescimento e da prosperidade global”, declarou Biden no encerramento do encontro de dois dias, realizado por videoconferência em função da pandemia de covid-19.

“E estamos empenhados em trabalhar com todos os que compartilham esses valores para definir as regras do caminho que regerão nosso progresso no século XXI”, acrescentou, destacando que a democracia “não conhece fronteiras” e “fala todas as línguas”.

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Biden prometeu que os Estados Unidos apoiarão “aqueles que dão a seu povo a capacidade de respirar livremente, não aqueles que procuram sufocá-los com punho de ferro”.

O presidente dos Estados Unidos disse muitas vezes que o mundo está chegando a um “ponto de inflexão” na luta entre autocracias em crescimento e democracias cada vez mais criticadas.

No primeiro dia da cúpula, que reuniu cerca de 100 governos e representantes da sociedade civil, Biden prometeu alocar US$ 424 milhões para apoiar a liberdade de imprensa, eleições justas e campanhas anticorrupção pelo mundo.

“Mais do que nunca, a democracia precisa de campeões”, defendeu.

Mas enquanto Biden servia de anfitrião do evento diante de uma parede de monitores na Casa Branca, a rival China zombava do encontro com propaganda, incluindo uma canção de rap em inglês que dizia que os americanos “vendem democracia como vendem Coca-Cola”.

China e Rússia, líderes supremos no campo das autocracias, segundo Biden, reagiram com irritação, acusando Biden de alimentar as divisões ideológicas da Guerra Fria.

O governo chinês ficou especialmente chateado porque Taiwan, uma ilha governada democraticamente que a China considera uma região separatista, foi convidada a participar da cúpula.

Mas Pequim recebeu apoio em meio ao evento organizado pela Casa Branca, após a Nicarágua, que também não foi convidada para a reunião, rompeu relações diplomáticas com Taiwan, dizendo que reconhecia “apenas uma China”.

O anúncio deixou Taiwan com apenas 14 aliados diplomáticos, em um momento em que o Departamento de Estado americano pede a “todos os países que valorizam as instituições democráticas” que “ampliem seu compromisso” com a ilha.

 Ceticismo

A defesa enfática da democracia por Biden também teve uma recepção mista internamente nos Estados Unidos.

Por um lado, os críticos republicanos dizem que o presidente democrata não foi duro o suficiente com a China ou outros adversários.

“Nos primeiros 11 meses de Joe Biden no cargo, ele falhou em defender a liberdade no mundo e cedeu àqueles que querem desmantelá-la, encorajando nossos inimigos e minando nossa posição no exterior”, criticou o Comitê Nacional Republicano em reação ao discurso desta sexta-feira do presidente americano.

Na outra ponta do espectro político, Daniel Ellsberg, famoso por vazar os Papéis do Pentágono, um relatório que expôs as mentiras do governo sobre a Guerra do Vietnã, criticou o governo Biden por buscar a extradição do fundador do WikiLeaks, Julian Assange.

Washington quer que Assange seja julgado pela publicação em 2010 do WikiLeaks, documentos militares confidenciais relacionados às guerras no Afeganistão e no Iraque.

O governo dos Estados Unidos conquistou uma importante vitória judicial nesta sexta-feira, que abriu caminho para que o australiano de 50 anos deixe o Reino Unido.

“Como Biden ousa dar uma palestra na Cúpula da Democracia enquanto se recusa a perdoar” Assange, tuitou Ellsberg, acusando Biden de “matar a liberdade de imprensa em nome da ‘segurança nacional'”.

Outra sombra paira sobre a democracia nos Estados Unidos: a recusa do ex-presidente republicano Donald Trump em aceitar que perdeu as eleições presidenciais de 2020 e o trauma deixado pelo ataque de seus apoiadores ao Congresso para impedir que o triunfo de Biden fosse certificado.

O apelo de Biden para defender a democracia esbarra no ceticismo de muitos.

De acordo com uma pesquisa do Pew Research Center, apenas 17% dos entrevistados em 16 economias avançadas “acreditam que a democracia americana é um bom modelo para outros países”. E outros 57% “acham que costumava ser um bom exemplo, mas não tem sido nos últimos anos.”