18/04/2021 - 13:01
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, espera impulsionar a luta contra a mudança climática com a organização de uma cúpula internacional no Dia da Terra, mas uma pergunta preocupa os participantes: é possível continuar confiando nos EUA?
O Acordo de Paris e o Protocolo de Kyoto, os dois maiores pactos internacionais sobre o clima, nasceram de intensos esforços da diplomacia norte-americana que acabariam sendo rejeitados com a chegada de novos ocupantes à Casa Branca – George W. Bush e Donald Trump -, que os denunciaram como injustos.
Desta vez, porém, os Estados Unidos de Joe Biden estão mirando alto. E têm pressa.
O presidente democrata convidou 40 líderes para participarem desta cúpula que será realizada virtualmente, em 22 e 23 de abril. Ainda que não seja uma reunião presencial, a iniciativa é fora do comum para um presidente com apenas três meses no cargo.
“É um evento que o presidente Biden decidiu que queria organizar. Não foi imposto para ele de fora. Podemos, portanto, esperar que ele queira mostrar ao resto do mundo que os Estados Unidos podem e vão liderar” a luta contra a mudança climática, comentou Alice Hill, analista do Council on Foreign Relations (CFR) e ex-conselheiro sobre o clima do governo Barack Obama.
“Claro que essa nuvem paira sobre toda cúpula: a questão sobre se os Estados Unidos realmente estão de volta no longo prazo”, acrescenta. “É, sem dúvida, a pergunta que ouço com mais frequência: como podemos confiar nos Estados Unidos?”.
Em entrevista à AFP, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, também se referiu a estas dúvidas. “O compromisso que os Estados Unidos demonstraram depois de alguns anos longe da questão climática é algo que as pessoas vão olhar para ter certeza de que é sério, de que está comprometido”, avaliou Trudeau.
– Retorno –
O impulso político sobre a questão do clima se fortaleceu nos últimos tempos, à medida que os traços do aquecimento global foram-se tornando mais evidentes.
Em seu primeiro dia de mandato, Biden devolveu os Estados Unidos ao Acordo de Paris de 2015, revertendo a decisão de seu antecessor Donald Trump, um firme aliado da indústria de combustíveis fósseis e que desprezava as explicações científicas sobre a mudança climática.
“O mundo está convencido de que os Estados Unidos estão de volta e que vão fazer todo possível para recuperar o tempo perdido dos anos Trump”, afirmou Alden Meyer, presidente do “think tank” E3G e observador das negociações sobre o clima.
“Pode Trump, ou alguém como Trump, voltar em 2024? É, de fato, uma possibilidade e está na mente de todos”, continuou. Mas, segundo ele, o governo Biden parece determinado a “assegurar” a redução das emissões e a tomar a frente nesta temática.
– Mão estendida –
Durante sua visita à Casa Branca na sexta-feira (16), o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, prometeu que seu país, o quinto maior poluidor do mundo, estabelecerá novas e mais ambiciosas metas para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa até 2030.
O presidente Jair Bolsonaro, aliado de Donald Trump, também prometeu a Biden antes da cúpula que respeitará o compromisso prévio de seu país de acabar com o desmatamento ilegal até 2030. Defensores ambientais se mostraram céticos quanto a isto.
O enviado americano para o Clima, John Kerry – que já negociou o acordo de 2015 em Paris como secretário de Estado de Obama -, também mostrou sua vontade de cooperar com os adversários de Washington nos desafios planetários, argumentando que o contrário significaria “se matar”.
Por este motivo, e apesar das tensões entre Washington e Pequim em muitos outros assuntos, Kerry viajou esta semana para a China, que é o maior poluidor do mundo.
O enviado americano publicou uma declaração conjunta com seu homólogo chinês, Xie Zhenhua, na qual ambas as potências afirmam estarem “comprometidas a cooperar” no urgente problema da mudança climática.
Kerry também discutiu brevemente sobre o tema com o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, quando ambos estiveram no mesmo hotel em Nova Délhi, segundo uma autoridade americana.
Com esta cúpula internacional, Biden e Kerry também buscam preparar o terreno para a grande conferência climática COP26 que será realizada em novembro deste ano em Glasgow, na Escócia. Nela, pretende-se chegar a acordos para estabelecer planos de ação firmes para 2030, e não apenas aspirações.