19/04/2013 - 21:00
Às vésperas do aniversário de 100 anos do hotel Plaza Athénée, de Paris, comemorado no sábado 20, seu diretor-geral, François Delahaye, perambulava pelo bairro dos Jardins, em São Paulo. O que ele fazia tão longe de sua “casa”? Remerciement, como dizem os franceses… agradecendo. Bem-humorado, cabelos grisalhos e um tipo à Alain Delon, o executivo francês, de 57 anos, nascido em Lille, esteve no Brasil para participar de eventos do segmento hoteleiro e reforçar os laços de carinho com o País. Pudera, na última década, os novos milionários daqui têm aumentado sua assiduidade no livro de hóspedes do hotel.
Sem afrouxar a gravata: no comando do Plaza Athénée, Delahaye
diz que o trabalho é a sua terapia
Em 2012, 20% da ocupação do Athénée, onde as diárias mais acessíveis variam de € 635 a € 1.450 (a tarifa dos apartamentos top não é divulgada), desembarcava no aeroporto Charles De Gaulle vinda da América do Sul. E metade tinha passaporte brasileiro. Um percentual expressivo que faz monsieur Delahaye arregalar os olhos e comemorar. Não só pelos euros que jorram das carteiras brasileiras, mas, segundo ele, pela qualidade de hóspedes made in Brazil. “Primeiro de tudo, vocês são mais bem-educados e elegantes”, diz Delahaye, que recebeu Dinheiro no lobby bar do Hotel Fasano, em São Paulo. Evidentemente, brasileiros, russos, indianos e chineses – a turma neoabonada do BRICS – têm chegado mais vezes e em maior número ao balcão de check in do Athénée, localizado no número 25 da avenue Montaigne.
Badalação: o hotel, com seus famosos toldos vermelhos, recebe de estrelas do cinema como John Travolta
(à esq.) até chefes de Estado como o presidente americano Richard Nixon (à dir.)
Para Delahaye, o desafio é entender e atender melhor a essa demanda. Ele compara, por exemplo, o comportamento de chineses e brasileiros. Os primeiros estariam ainda pouco maduros para valorizar um “hotel muito bom ou um jantar refinado”. Já os brasileiros, não. “Vocês são mais chiques, viajados… e muitos falam francês.” A ligação do hotel com o País é antiga. Delahaye lembra que a extinta companhia aérea Varig já teve um escritório de vendas no saguão do Athénée por 20 anos. O executivo lembra que “muitos brasileiros com apartamentos na cidade, que vinham para fazer compras, aproveitavam para jantar em um dos restaurantes estrelados no Guia Michelin que o hotel possui”.
Segundo o diretor, porém, é questão de tempo para que os asiáticos descubram outros prazeres do mercado de luxo além do consumo. “Hoje, eles desejam o material. Algo que possam comprar – uma joia, um relógio – e carregar de volta para a China, para mostrar que estiveram na França ou Itália”, diz. “Mas eles aprenderão rapidamente.” Para confirmar sua aposta, o grupo hoteleiro de alto luxo Dorchester Collection, controlado pelo sultão de Brunei, dono de nove hotéis de luxo espalhados pelo mundo – como o Plaza Athénée –, abriu em novembro do ano passado um escritório de relações públicas na China e espera dobrar o número de hóspedes chineses em seus endereços da rede até 2015.
Sinatra gostou: carta enviada pelo cantor Frank Sinatra, elogiando o hotel
Ansioso pela comemoração, Delahaye festeja a aquisição de três prédios vizinhos ao edifício principal. A proposta é aumentar consideravelmente a oferta de quartos e salas de reunião do Plaza Athénée. Tudo para manter a liderança desse ícone da hotelaria no mercado mais competitivo do planeta: Paris. “E é mais fácil chegar a número 1 do que se manter na liderança”, diz ele. O diretor explicou também que o hotel organizou uma festa diferente para 600 de seus hóspedes mais leais. Além da cascata de taças de champanhe, dos balões coloridos e do bolo de oito metros de comprimento servido no jardim, os convidados serão os únicos a presenciar o enterro de uma cápsula do tempo. Feita de prata, ela carregará para a posteridade fotos de 1913, ano da inauguração do lugar, vídeos mais recentes de celebridades e personalidades que se hospedaram no hotel e outros itens sugeridos pelos hóspedes.
A cápsula será desenterrada daqui a 25 anos. Haverá também uma apresentação do staff do hotel, formado por 515 funcionários, sobre suas habilidades manuais, que traduzem a excelência dos serviços do Athénée. Padeiros, chefs, arrumadeiras, bartenders e concierges, muitos deles empregados do hotel há várias décadas, terão o seu momento sob os olhares dos presentes. Uma espécie de homenagem à filosofia de vida do próprio Delahaye, que desde 2004 acumula a função de diretor do Athénée com a de COO do grupo Dorchester todo: a de que só o trabalho salva. “É a melhor terapia. Está se sentindo mal, pouco importante? Trabalhe!”, afirma. “O tempo passa mais rápido e você chega em casa mais orgulhoso de si próprio.”