Durante anos, o McDonald’s foi um dos principais adeptos da velha máxima que diz que ?em time que está ganhando não se mexe?. Tirando uma ou outra alteração no cardápio, o que fez a fama da rede americana foi exatamente a fórmula padrão das operações. Agora, a maior rede de fast-food do planeta mudou de idéia. Nas lanchonetes da marca, o tradicional Big Mac tem a companhia do café; a padronizada decoração ganha novos ares e o serviço de entrega em domicílio, antes inimaginável para o modelo de qualidade desenvolvido pela cadeia, foi recentemente inaugurado. A renovação não se encerra aí. Fundado em 1955, o McDonald?s parece mesmo disposto a renascer. E sob o signo dos tempos modernos. Diversos pontos da rede se estruturaram para permitir que seus consumidores se conectem, enquanto saboreiam um sanduíche e um sorvete, com o mundo da Internet. Alguns desses recentes ingredientes que se somam à receita bem sucedida da companhia americana estão sendo agora testados no Brasil. No caso do McInternet, pela primeira vez, um país dá ao sistema um formato final e o implanta em grande escala. Do mês passado para cá, 51 lojas de São Paulo e Rio de Janeiro aderiram ao serviço. O resultado chamou a atenção do escritório central nos Estados Unidos, que estuda estender a inovação a mais mercados. ?O McDonald?s não abre mão do seu padrão de qualidade, mas considera importante descobrir quais são as necessidades dos consumidores?, garante Tânia Kulb, diretora de marketing no País.

Não só da matriz veio o interesse explícito. Quando conheceram o projeto, a HP, a Telefonica, o Terra e o Itaú não demoraram a se apresentar para o negócio. Fecharam contrato com o McDonald’s e cederam capital e recursos tecnológicos. Os investimentos chegam a mais de US$ 800 mil. Em breve, os usuários poderão contar com e-mail gratuito e canais de conversa. “A novidade vai contribuir para a popularização da Internet no País?, defende Ragvinder Rekhi, vice-presidente de Novas Tecnologias do McDonald?s Brasil. ?Qualquer pessoa poderá usar os computadores, mesmo quem nunca trabalhou com informática antes.?

Agilidade. Os arroubos de modernidade da cadeia vão além, derrubando até preceitos míticos do McDonald?s, como o de que o sistema de entrega não seria bem-sucedido na rede. O temor contra o ?delivery? era compreensível: com os rigorosos padrões do McDonald?s era preciso achar uma fórmula capaz de levar o sanduíche das lojas até o consumidor sem comprometer a qualidade. Foi feito. Ainda em fase de teste, o sistema funciona em 11 lojas de São Paulo, Brasília e Goiânia. Batizado como McEntrega, o serviço é exclusivo às áreas próximas às unidades que fazem o delivery. Caso o pedido venha de um local distante, a central o direciona ao ponto cadastrado mais próximo.

Para o Brasil, parece que mudanças não são um mistério. Pelo menos, foi assim com os quiosques de sorvetes e o McCafé. Atualmente, 14 unidades em São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, com jeitão de bistrô, já servem o cafezinho. ?Ampliando a variedade de produtos, testamos novos segmentos de mercado”, afirma Tânia. Na semana passada, o McDonald?s brasileiro colocou abaixo mais uma crença alimentada pelas lojas brasileiras. A de que o pagamento dos lanches só devia ser feito com dinheiro vivo ou cheque para evitar atrasos no atendimento. Durante três meses, 11 unidades de São Paulo vão aceitar cartões de crédito e de débito. Como a tecnologia ficou mais ágil, as cobranças automáticas ganharam nova chance.

Outra tradição enraizada no McDonald?s, a de padronização dos restaurantes, está sendo revista. A empresa descobriu que os brasileiros desejam nova decoração para o ambiente, padronizado há décadas nas cores amarela e vermelha, cadeiras e mesas de plástico e paredes em tom creme. Eles queriam algo diferente, moderno, pessoal e mais hospitaleiro, em resumo. Foram atendidos. Quatro estilos de decoração, mantidos em sigilo, começam a ser adotados em algumas lojas. O máximo que a companhia informa são algumas pistas. O estilo clean terá cores claras e sem muitos contrastes entre elas; o modelo arrojado apresentará design moderno e cores em contraste. Enfim, um McDonald?s de roupa nova.

As mudanças de comportamento são acompanhadas também de revisão dos negócios. Na semana passada, a rede anunciou o fechamento de 20 lojas no Brasil. Não é todo dia que o McDonald?s cerra as portas de duas dezenas de unidades, mas seus executivos garantem que se trata apenas de um reposicionamento dos restaurantes. A maioria das lojas fechadas, segundo eles, eram pequenas unidades ou quiosques financeiramente desinteressantes para o grupo. Outras unidades no mundo também serão fechadas. Em tempos de crise econômica, nem os gigantes são poupados.