A história da Microsoft e a dos computadores pessoais se confundem. A primeira linguagem para microcomputadores foi escrita em 1975, pela dupla Bill Gates e Paul Allen. Hoje, nada menos que 92% dos PCs deixam as lojas recheados com os códigos produzidos pelos pesquisadores da Microsoft. Agora, 25 anos depois da sua fundação, a maior companhia de software do mundo tem pela frente o desafio de expandir seu mercado para compensar um fenômeno que já se alinha no horizonte: o declínio do mercado de computadores pessoais, que vão perder espaço para aparelhos menores, como os Assistentes Pessoais (PDAs). Nos últimos meses, a empresa de Redmond tem avançado sobre novos mercados ? jogos, servidores corporativos, telefones celulares e micros de mão. ?Muitas aplicações que antes estavam no PC vão começar a migrar para outros aparelhos, complementares ao computador?, prevê Gates. ?Nosso desafio é criar uma estrutura que interligue todos esses equipamentos e lhes dê funcionalidade conjunta. Caso contrário, o mercado vai começar a encolher.?

Fabricantes como Dell e Gateway já sentiram uma desaceleração das vendas. O freio inevitavelmente repercutirá nas empresas que elaboram os programas ? a Microsoft, a mais importante delas. Pequenos estragos já foram notados. No último trimestre de 2000, as vendas do Office ? que inclui o editor de texto Word ? caíram 2%. A saída natural foi diversificar a linha de produtos. ?O PC não vai embora?, afirmou Darcy Burner, diretora de marketing da .Net, uma plataforma de comunicação que vai permitir, entre outras coisas, o diálogo fácil entre micros, celulares e protótipos que ainda nem têm previsão de lançamento, como a Tablet ? uma espécie de prancheta eletrônica em que o usuário escreve com uma caneta. Diz Burner: ?As pessoas vão usar uma constelação de equipamentos. É no cruzamento entre eles que queremos atuar.? Só neste ano, a Microsoft irá colocar US$ 200 milhões nos seus projetos de pesquisa para computação móvel. Segundo o IDC, cerca de 13 milhões de unidades foram comercializadas no ano passado, número que vai ser multiplicado por cinco em 2004. Dentro dessa categoria, um dos grupos que mais irão se destacar é o dos assistentes pessoais, ou micros de mão. O setor tem sido dominado pela Palm, mas ela já sentiu a presença da Microsoft em seu campo de atuação. No ano passado, a companhia de Gates lançou com a Compaq o iPaq, um PDA com visor colorido e reconhecimento de escrita automático que funciona movido por uma versão reduzida do Windows, o CE. Esse lançamento foi suficiente para que, de dezembro a janeiro, a participação de mercado da Palm caísse de 65% para 60,5%. ?A Microsoft atuou claramente com a intenção de invadir a porção de mercado da Palm?, diz Kevin Burden, pesquisador do IDC americano. ?A Palm continua a reinar suprema, mas pela primeira vez está tendo de encarar um sólido perigo à sua dominância.?

As investidas da Microsoft fora do mundo dos PCs não param aí. Para entrar no mercado de celulares, a Microsoft já tem nas mãos o Mobile Information Server 2000, que transportará notícias e outras informações para os telefones móveis. O Xbox, jogo que irá competir com o Playstation e marca a estréia da Microsoft nesse setor, chegará ao mercado japonês e americano no final do ano. Para as próximas semanas, está previsto o lançamento do BizTalk, que irá interagir com diferentes programas de gestão, do pagamento de fornecedores até avisos por e-mail. O produto fará parte de uma família de programas que atende o mercado corporativo e já representa 18% do faturamento da empresa. ?Os softwares para as empresas irão crescer 20% nos próximos 12 meses?, afirma Maurício Santillán, vice-presidente para a América Latina. É a Microsoft encontrando maneiras de seguir como uma das empresas mais poderosas e rentáveis do planeta.