Nos últimos meses, o setor de educação brasileiro tem atravessado um momento de ebulição. Em julho, a britânica Pearson pagou R$ 888 milhões pelo Sistema Educacional Brasileiro (SEB). Um ano antes, o fundo americano Advent já havia comprado 50% da mineira Pitágoras, holding que controla a Kroton Educacional por R$ 280 milhões. Há, entretanto, uma exceção nesse universo. 

 

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Clinton fala à dinheiro: “O método da Sangari vai nos ajudar a oferecer um ensino de qualidade”

 

Trata-se da brasileira Sangari, criada pelo iraniano radicado  no Brasil, Ben Sangari. Enquanto as estrangeiras avançam sobre as escolas nacionais, ela faz o caminho inverso. 

 

A empresa, cujo faturamento é de R$ 110 milhões, está exportando sua metodologia de ensino de ciências (física, biologia e química). Depois de ter conquistado espaço no mercado argentino, onde mais de 10 mil alunos já utilizam o sistema, a Sangari agora avança nos Estados Unidos. 

 

Para isso, conta com um aliado de peso: Bill Clinton, ex-presidente americano. Ele pretende usar seu instituto, o Clinton Global Initiative (CGI), como alavanca para a divulgação do método criado pela Sangari. 

 

A primeira etapa dessa empreitada já saiu do papel. Hoje, pelo custo mensal de cerca de R$ 25 por aluno, seis escolas públicas dos Estados de Ohio, Colorado, Missouri, Massachusetts e Pensilvânia, passaram a adotar o sistema e a Sangari já embolsa R$ 2,5 milhões só com esse negócio. 

 

O mercado é extremamente promissor: são 49,3 milhões de alunos. “O trabalho e o suporte de Ben Sangari e de todo o Grupo Sangari vai nos ajudar a oferecer  um ensino de qualidade a todos os cidadãos do mundo”, diz Clinton à DINHEIRO, em testemunho enviado por escrito.

 

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Em junho passado, Clinton esteve na Argentina onde conheceu o trabalho da Sangari e decidiu se tornar parceiro do empresário. O mesmo aconteceu com Chris Cerf, ex-secretário municipal de educação de Nova York. 

 

O empresário Sangari aproveitou a presença de Cerf em um evento em São Paulo, em 2008, para abordá-lo. Hoje, Cerf é o presidente da filial americana da Sangari, aberta em fevereiro deste ano. Eu estava prestes a continuar meu trabalho na secretaria, mas fiquei fascinado com o desafio de implementar o método nos Estados Unidos”, conta Cerf.

 

Mas o que há de tão especial na forma de ensinar que a Sangari criou? O método estimula a descoberta dos alunos e leva o laboratório para dentro da sala de aula. Ao contrário do que se possa imaginar, a empresa não fornece apenas livros. 

 

São enviados para as escolas kits completos de ciências que contêm desde pedras, agentes químicos e até peixes vivos para estudo. “O aluno deixa o lugar de coadjuvante e assume um comportamento mais reflexivo e investigativo”, diz Cláudia Naves Innecco, assessora pedagógica do Colégio Magnum de Belo Horizonte (MG).

 

Nascido no Irã, criado na  Inglaterra e radicado no Brasil, Sangari, hoje com 49 anos, começou em educação aos 20, auxiliando nos negócios do pai, que atuava como consultor de sistemas de pesquisas para universidades na Inglaterra. 

 

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Ensino criativo: Ben Sangari (à esq.) criou o método usado por crianças como as da rede 
municipal de Botucatu (abaixo) e convenceu Chris Cerf (à dir.) a comandar a filial nos EUA 

 

Aos 29 anos, decidiu fundar a sua própria companhia. Formado em física, ele apostou em uma forma mais atrativa de ensinar ciências em países em desenvolvimento. 

 

Primeiro pensou em abrir o negócio no Sudeste Asiático, mas uma amiga o convenceu a visitar o Brasil. “Quando cheguei aqui não quis mais voltar”, diz. A companhia foi iniciada em 1997, “mas o sistema educacional levou oito anos para chegar ao formato atual”, explica. 

 

No Brasil, o sistema é utilizado por meio milhão de alunos, que estudam em 911 escolas públicas e privadas do Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo.  A lista inclui instituições consagradas como o Colégio Miguel de Cervantes, em São Paulo, o Dom Bosco, em Curitiba (PR) e o Magnum, de Belo Horizonte (MG).  

 

Do faturamento total da empresa, menos de 10% vem do Exterior, mas esse número deve mudar em breve. “Os Estados Unidos representarão 30% ou mais do nosso faturamento até 2012”, diz Sangari. A expansão global será vital na meta do empresário de quase dobrar, para R$ 200 milhões, a receita do grupo até o final de 2011.