04/08/2004 - 7:00
No dia 20 de julho, todos os funcionários da Ford Motor Company, em 200 países, receberam um e-mail do Bill. A mensagem elencava os resultados financeiros da montadora, dentre os quais o lucro líquido de US$ 1,2 bilhão no segundo trimestre de 2004. Um salto expressivo para quem havia contabilizado US$ 413 milhões em igual período do ano passado. Comemorava, também, a valorização de 35 centavos de dólar para cada ação da companhia. ?Agradeço o empenho de todos e estimo que esse momento positivo se mantenha por muito tempo?. Não se tratava, claro, de um Bill qualquer. A assinatura era de William Clay Ford Jr, ou Bill Ford, CEO mundial e chefão da marca norte-americana que vem reconduzindo a montadora ao caminho da prosperidade. E ele faz questão de dividir os louros da conquista com os 350 mil funcionários. O jovem de 47 anos, bisneto do fundador Henry, tem descascado com talento o abacaxi deixado por seu antecessor, Jack Nasser, que geriu mal recursos e investimentos, deixando prejuízos de US$ 12 bilhões. Na era Nasser, a Ford quase foi à bancarrota.
?O retorno de um membro do clã à liderança foi emblemático para o ambiente interno?, garante um executivo brasileiro. Bill Ford vem defendendo bem o patrimônio da família, que possui 4% das ações preferenciais e 40% das ordinárias (com direito a voto). A fórmula empregada por Bill, porém, é tão simples e lógica que chega a irritar especialistas e consultores: enxugar custos, concentrar-se na produção de veículos modernos (Nasser pulverizou energias comprando autopeças) e investir nos relacionamentos (clientes, distribuidores, fornecedores e empregados). Em 2003, a empresa economizou US$ 3,2 bilhões na dispensa de empregados, na venda de ativos, na descontinuação de veículos com baixa lucratividade e na repaginação de despesas. Por outro lado, não pisou no freio nas novidades. Durante o Salão de Detroit, em janeiro de 2003, a Ford lançou 15 veículos, entre os novos Mustang, picape F-150 e utilitário Escape híbrido (gasolina e elétrico). Modelos que já mostravam apetite para reconquistar mercado. No final do ano, os resultados: a marca faturou US$ 164,2 bilhões com a venda de 6,72 milhões de veículos (lucro de US$ 495 milhões). Em 2002, ela havia tido US$ 162,3 bilhões de receita, vendendo 6,97 milhões de automóveis (prejuízo de US$ 980 milhões). Ou seja, a Ford fechou 2003 vendendo menos e faturando mais. E importante: saiu do vermelho. Em 2004, os lucros no primeiro semestre já passam de US$ 2,7 bilhões.
A boa fase tem resvalado na concorrência. De janeiro a março de 2004, a Ford teve US$ 1,9 bilhão de lucro, o dobro do que se previa em Wall Street, enquanto a General Motors não passou de US$ 1,3 bilhão. O maior mérito do executivo, além de se concentrar na produção de carros, tem sido a visão a longo prazo. Virtudes idênticas às de Henry Ford. ?Ele adotou como lema o back to the basics, ou a volta aos fundamentos?, conta Antônio Maciel Neto, presidente da Ford na América do Sul. Segundo analistas, ?Nasser dava tiros de revólver, criando veículos de vida curta. Já Bill usa rifle, isto é, dá disparos mais distantes, enxergando nichos rentáveis no futuro?. Os lançamentos do GT 90, esportivo que reintroduz a marca na briga com Ferrari e Porsche, do novo Focus, modelo que fez ressurgir os dividendos na subsidiária européia, e do EcoSport, inventor da categoria utilitário-esportivo compacto no Brasil, são alguns dos exemplos dessa ótima mira.
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