14/11/2013 - 21:00
Acaba de chegar às livrarias americanas uma biografia do bilionário Jeff Bezos. Antes que alguém pergunte, não foi autorizada e já recebeu resenhas positivas por toda parte. Bezos é um dos homens do momento no mundo corporativo. Criador da megaloja virtual Amazon.com, ele revolucionou a maneira de se fazer compras, patrocinou avanços imensos na área de tecnologia e da inteligência virtual e acaba de fazer um surpreendente movimento, ao comprar o jornal The Washington Post. Num país que cultua o espírito animal do empreendedor, é uma espécie de herói nacional.
Mas é humano e, portanto, dotado de defeitos e falível. A biografia o mostra por inteiro, inclusive seu lado obscuro e irascível. Bezos, o maior vendedor de livros do planeta, teria o poder de boicotá-la. Não o fez. A obra está à venda na Amazon.com. O episódio nos ensina várias lições. Não é preciso gastar mais tinta em defesa da liberdade de expressão ou no debate com os que querem limitar a ação dos biógrafos brasileiros. Se fecharmos o foco no trabalho dos que se dedicam a relatar as epopeias empreendedoras, veremos como nosso atraso nas prateleiras das bibliotecas é proporcional à nossa pujança corporativa.
Nos Estados Unidos, meca do capitalismo, há obras densas vasculhando vida e carreiras de praticamente todos os grandes empresários e executivos, dos Rockefellers a Donald Trump. Investe-se nisso com afinco porque dá retorno, há público interessado. O capitalismo americano se realimenta com o sucesso e o fracasso de seus líderes. O que eles fizeram, como fizeram e como agiam – para o bem e para o mal – educa gerações e alimenta sonhos de prosperidade.
No Brasil, ao contrário, pouco se escreve sobre os homens que construíram nossas principais companhias. Quando se faz, na maioria das vezes, a pena é patrocinada pelo próprio biografado, por vaidade ou pelo legítimo e louvável interesse de deixar algum legado às próximas gerações de empreendedores. Decorre, daí, que raramente os textos mergulham nos conflitos e nas angústias do homem em questão, em suas jogadas menos nobres, nas artimanhas que usou para se sobrepor. Sem a alma do personagem, os livros encalham, a história não reverbera. Ficamos todos mais pobres.