São Paulo, 28 – A Bioenergia Brasil e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) divulgaram nesta sexta-feira nota conjunta criticando as declarações da chinesa BYD, maior fabricante de carros elétricos do mundo. As entidades consideraram “injustas” as manifestações da BYD em relação ao governo brasileiro e à sua abordagem de mobilidade sustentável. “Ao dizer que existem vários governos, a mensagem sugere a inexistência de coordenação por parte do Presidente da República”, dizem a Bionergia Brasil e a Unica, na nota conjunta. “Vindo de uma empresa brasileira seria ruim; de uma estrangeira soa hostil.”

Nesta semana, o conselheiro especial da BYD, Alexandre Baldy, contestou proposta do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, atual ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), de incluir os veículos elétricos na lista do Imposto Seletivo, ou “imposto do pecado”, que propõe sobretaxar, na reforma tributária, bens e serviços que causem danos à saúde ou ao meio ambiente, como bebidas alcoólicas e açucaradas, cigarros, jatinhos e lanchas, além da extração de petróleo e minério de ferro.

Para Alckmin, o governo não escolhe a rota tecnológica para o desenvolvimento de futuros automóveis e, no caso dos elétricos, é preciso levar em conta o fator poluente da fabricação das baterias e de como é gerada a energia que vai abastecê-las.

Após a proposta, Baldy, da BYD, declarou que “os governos são distintos, existem vários governos dentro do mesmo governo”. E complementou: “Na avaliação de quem está tomando a frente da reforma tributária e que enviou os projetos de lei complementares para concluir a reforma tributária, a visão do Ministério da Fazenda é muito clara e inclusive foi cético sobre essa recomendação do MDIC”. O executivo da empresa chinesa disse, ainda, ser “surpreendente” que a Fazenda esteja sendo desenvolvimentista, no aspecto da transição energética para uma neoindústria, “e o MDIC, o qual deveria ser desenvolvimentista, está sendo retrógrado”.

Sob este aspecto, a Bioenergia/Unica avaliam que há um “descompasso” com a verdade quando o executivo da BYD considera “ninguém menos que o vice-presidente da República” como uma pessoa “retrógrada”, “justamente no dia em que o programa Mobilidade Verde, depois de enviado pelo Executivo, aprovado com praticamente unanimidade pelo Congresso Nacional, é sancionado pelo Presidente da República”. Para as entidades, o Mobilidade Verde é “um marco para a mobilidade sustentável global, à medida que o Brasil se torna o primeiro país do mundo a levar o tema a sério, medindo as emissões dos veículos em todo o ciclo produtivo”.

As entidades dizem também que, “além de ofender a República brasileira”, a manifestação da BYD “afronta a ciência, na medida em que não admite o fato de que veículos elétricos tenham pegada de carbono considerável”.

Para a Bioenergia/Unica, a busca pela mobilidade sustentável e pela economia de baixo carbono “passa pelo entendimento respeitoso entre todas os atores envolvidos, incluindo as esferas pública e privada”. “Não é com ofensas que se avança. Pelo contrário, a crise climática exige esforço conjunto e ético”, reforçam, e acrescentam que “o Brasil tem dado, ao mundo todo, exemplos importantes de como conduzir políticas públicas de incentivo à descarbonização e, ao mesmo tempo, abrir diálogos e incentivar o desenvolvimento. E é assim que devemos seguir”.