02/05/2012 - 21:00
Quem trabalha com moda praia sabe que é difícil manter a curva de venda estável durante todo o ano, mesmo em países do Hemisfério Sul, onde o inverno não é tão rigoroso, como é o caso do Brasil. Pensando nisso, a paulistana Adriana Degreas aproveitou a aura de luxo em torno de suas peças, que podem custar até R$ 2,5 mil, para fazer com que o faturamento da marca que leva seu nome, não despenque, mesmo quando o frio bate à porta. A estratégia comercial é fazer com que sua coleção seja tão sofisticada e cobiçada pelos endinheirados que se torne usável em todos os horários e estações. Por exemplo, maiôs que são ideais para um passeio de iate, mas que também servem para sair à noite quando, é claro, combinados com outras peças.
Do verão ao inverno: as peças são queridinhas das endinheiradas.
“Ou então saídas de praia tão requintadas que ninguém distingue se é para usar na piscina ou numa festa”, afirma a estilista. A ideia de Adriana não chega a ser exatamente pioneira. A grife carioca Lenny, também de moda praia luxo, já usou a mesma estratégia para driblar a oscilação do mercado. O diferencial é que a marca Adriana Degreas tem alcançado cada vez mais o público internacional. “Isso se deve, principalmente, à qualidade de suas roupas”, diz Silvio Passarelli, diretor do curso de gestão de luxo da Faap. Os cortes precisos de suas criações (a estilista costuma dizer que as peças devem ser perfeitas mesmo do avesso) e o uso de estampas refinadas e tecidos nobres, como o cetim e o crepe de seda, são os responsáveis pelo sucesso no Exterior da marca, que hoje está presente em 15 países.
“Não é porque sou do Brasil que preciso desenhar abacaxis ou estampas coloridas”, diz a estilista. “Minhas clientes brasileiras são as mesmas que compram Prada ou Missoni.” Segundo Passarelli, é essa internacionalização do estilo que faz com que as peças de Adriana conquistem o mercado de luxo estrangeiro. “O excesso de brasilidade fica muito alegórico dentro de um mundo globalizado”, afirma. Ao que tudo indica, Adriana está no caminho certo. Só no ano passado foram produzidas 50 mil peças, um crescimento de 20% em comparação a 2010. “Esses números não significam, necessariamente, uma tendência no mercado de moda”, afirma Passarelli. Isso porque, para ele, os produtos da designer já têm o DNA necessário para sair da praia para as ruas. “Os empresários que quiserem usar o modelo de negócio de Adriana como inspiração precisam ter a mesma qualidade estética que ela tem.”
Adriana: loja própria em São Paulo, showroom em Nova York e presença em 15 países.
Com um faturamento anual de R$ 20 milhões, a estilista atribui parte de seu sucesso ao marido, o empresário César Degreas. “Ele é a cabeça de negócios por trás da marca.” É o executivo que analisa se as parcerias, como a mais recente, celebrada com a Havaianas, do grupo Alpargatas, valem a pena. É ele também o responsável pela entrada de Adriana na moda. Formada em desenho industrial, a estilista se interessou pelo segmento no início dos anos 1990, quando se casou com Degreas, herdeiro da empresa de confecção de biquínis Beiramar, existente há mais de 60 anos no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Antes de lançar sua marca própria, a designer já havia colaborado para a companhia da família do marido, além de trabalhar para grifes renomadas como Gloria Coelho e Daslu.
Mas foi apenas em 2001 que o casal resolveu unir criatividade ao know-how do setor de moda praia para lançar a grife. O reconhecimento público veio nove anos depois, com a entrada da grife no line-up do São Paulo Fashion Week, em 2010. A semana de moda paulistana trouxe mais visibilidade à marca, transformando-a em uma das queridinhas entre as fashionistas abonadas. Desde a sua criação, Adriana investiu R$ 33 milhões na empresa, incluindo uma fábrica, também no Bom Retiro. Com um showroom em Nova York e uma loja própria no shopping Iguatemi, na capital paulista, Adriana planeja abrir mais duas lojas nos próximos anos. “Uma no Rio de Janeiro e outra lá fora”, diz. “Só ainda não decidi onde.”