Cinema de arte, manda o senso comum, é atividade de sucesso em bairros ricos das metrópoles. Funciona em Botafogo, no Rio de Janeiro. Funciona nos Jardins, em São Paulo. Um grupo nascido no interior de São Paulo, o Moviecom, com 80 anos de existência, trilhou o avesso do preconceito ? em janeiro, pôs nas telas um festival de cinema iraniano na Penha, zona leste da capital paulistana. Une-se a escola de filmes tida e havida como arte para pouquíssimos com uma região da cidade tida e havida como popular, e portanto contrária à lentidão das imagens do Irã. Resultado? Deu certo. As sessões, nos finais de semana, na hora do almoço, receberam de 30 a 40 pessoas ? um terço da lotação, o que está longe de ser ruim. ?Evidentemente não tem o sucesso de filmes como Homem-Aranha ou Harry Potter, mas ficamos animados?, diz João Passos Neto, um dos donos da empresa, proprietária de 77 salas em 17 cidades do interior do País, na contramão dos gigantes americanos do ramo. Com faturamento em 2004 de R$ 26 milhões (R$ 9 milhões com a venda de refrigerantes, doces e pipoca), a Moviecom decidiu apostar num Shopping Center da Penha ? e ali pousou o Irã na tela grande.

O complexo de oito salas na Penha segue uma tendência e um modo de vida que, de alguma maneira, recupera o passado: trata-se da vocação econômica de alguns bairros de ali fazer crescer um comércio próprio. Isso é especialmente verdadeiro na zona leste de São Paulo, com uma classe média forte. No passado, ia-se ao ?Centro?. Voltou a ser assim ? e é essa a aposta da turma da Moviecom. ?Queríamos atender as pessoas que moram no bairro e não querem se locomover?, diz Passos Neto. Pode parecer pouco, mas é uma grande jogada econômica. No auge do chamado milagre econômico, há mais de vinte anos, o Brasil chegou a ter 3 mil salas de exibição. Hoje, são 1.900. O espaço para crescimento segue a rota aberta pela Moviecom: abrir salas em bairros das capitais. A Penha teve quatro salas de rua ? todas sumiram até o brotar do ?multiplex? no shopping. É, sem dúvida alguma, biscoito fino para a massa ? sobretudo agora, com essa insólita oferta de campeões de bilheteria iranianos.