03/03/2017 - 18:26
O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gehrard Muller, declarou nesta sexta-feira, 3, no Vaticano que nenhum católico é obrigado a acreditar na autenticidade de aparições nem a visitar os locais onde tenham ocorrido, mesmo que a Igreja as tenha apoiado, como no caso dos santuários de Fátima e Lourdes. O cardeal fez essa declaração dois dias após d. Ratko Peric, bispo de Mostar Duvno, diocese de Bosnia-Herzegovina, na antiga Iugoslávia, ter afirmado em artigo que a Virgem Maria não apareceu em Medjugorje.
Cerca de 40 milhões de devotos, ou mais de 1 milhão por ano, visitaram Medjugorge desde 1981, quando seis jovens anunciaram que estavam vendo Nossa Senhora em repetidas aparições, no alto de uma colina. Os bispos da região desconfiaram do relato dos videntes e mantiveram o Vaticano sempre informado sobre o fenômeno, enviando mensagens diretas aos papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco.
Até agora, Roma não tomou posição sobre a autenticidade das aparições. Há duas semanas, Francisco nomeou o bispo polonês Henryk Hoser seu enviado especial para estudar Medjugorje com um objetivo pastoral, não de Investigação.
D. Ratko Peric aponta, em seu artigo, vários indícios de que, conforme avalia, podem comprovar que as aparições não são autênticas. O bispo adverte que, no relato dos videntes, Nossa Senhora aparece como uma figura ambígua, uma figura feminina que “se comporta de maneira muito diferente da verdadeira Virgem”. É uma figura que “ri de maneira estranhas, desaparece diante de certas perguntas e depois volta, obedece aos videntes e não se sabe exatamente por quanto tempo aparecerá”.
Segundo o bispo, as mensagens da Virgem de Medjugorge são “estranhas”, porque “não há um objetivo nessas aparições, não se justifica a aparição, não foi deixada alguma mensagem específica para os videntes e para os frades (da paróquia), nem para os fiéis e para o mundo”. E mais: “Coisa muito inusitada e grave: a aparição permite que não só eu alguns da multidão pisoteiem o seu véu
estendido na terra, mas também que toquem seu corpo”. Para d. Peric, “tais histórias de tocar o corpo da Virgem, seu vestido, de poder pisar no seu véu geram em nós uma sensação e convicção de que se trata de algo indigno, inautêntico”.
Ao comentar as declarações do bispo de Mostar, o cardeal Müller advertiu que o futuro da Igreja não depende nem de Medjugorje nem de conhecidos santuários, como Fátima e Lourdes. “Podem ajudar a fazer mais presente a mensagem da penitência para o mundo de hoje, mas a fé é aquela que se vive no dia a dia, na família, no trabalho, na paróquia”, disse o cardeal. “Deus é sempre livre para conceder a nós alguns carismas, mesmo especiais, mas nós devemos concentrar-nos na presença de Deus, que se revelou em Jesus Cristo”, afirmou.
A posição de d. Peric contrária às supostas aparições, disse o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, “deveria ser considerada a convicção pessoal do bispo, que tem o direito de se expressar como bispo ordinário da diocese, mas que é e continua sendo a sua opinião”. A palavra final será do papa, que tem em mãos o relatório da Comissão de Investigação sobre Medjugorge presidida pelo cardeal italiano Camillo Ruini, nomeada no pontificado de Bento XVI para investigar o assunto.