Por Alun John e Elizabeth Howcroft e Tom Westbrook

CINGAPURA/HONG KONG/LONDRES (Reuters) – As criptomoedas reduziam perdas nesta sexta-feira, com o bitcoin voltando a operar acima de 30 mil dólares, mas ainda registrando uma sequência recorde de quedas após o colapso da stablecoin TerraUSD, que abalou o mercados de criptomoedas.

Os ativos digitais sofreram uma forte sequência de perdas impulsionadas por aversão a risco de investidores preocupados com a alta da inflação e aumento de taxas de juros. A confiança no setor está abalada, pois os tokens atrelados ao dólar também recuaram.

O bitcoin subia 5,5% às 12h22 (horário de Brasília), para 30.464 dólares, encenando uma recuperação em relação à queda da véspera, quando chegou a operar no patamar de cerca de 25.400 dólares.

A moeda, porém, segue muito abaixo dos níveis da semana passada, de cerca de 40 mil dólares. A menos que haja uma recuperação nas operações de fim de semana, o bitcoin deve registrar uma sétima queda semanal consecutiva, um recorde.

“Acho que o pior não passou”, disse Scottie Siu, diretor de investimentos da Axion Global Asset Management, uma empresa de Hong Kong que administra um fundo de índice de criptomoedas.

“Acho que há mais quedas vindo nos próximos dias. Acredito que o que precisamos ver é um interesse maior no colapso, de modo que os especuladores vão realmente sair. É aí que eu vejo que o mercado vai realmente se estabilizar”, acrescentou.

As ações relacionadas a criptomoedas caíram. Na Ásia, a Huobi, listada em Hong Kong, e a BC, que operam plataformas de negociação e outros serviços de moedas digitais, observaram quedas semanais de mais de 20%.

A onda de venda cortou praticamente pela metade o valor do mercado global das criptomoedas desde novembro e a queda se transformou em pânico nas últimas sessões quando o impacto começou a ser sentido por stablecoins.

As stablecoins são tokens atrelados ao valor de ativos tradicionais, frequentemente o dólar norte-americano, e são o principal meio para se movimentar dinheiro entre criptomoedas ou para se converter saldos em carteiras em dinheiro fiduciário.

Os mercados de criptomoedas foram abalados nesta semana pelo colapso da TerraUSD (UST), que caiu rompendo a paridade de 1:1 com o dólar.

O complexo sistema de estabilidade da UST, que envolve o equilíbrio da criptomoeda de livre flutuação Luna, parou de funcionar quando a Luna ficou sob pressão vendedora. A UST era negociada no início desta tarde a 0,1941 dólar segundo a CoinMarketCap. A Luna estava perto do zero.

Já a Tether, a maior stablecoin e descrita pelos desenvolvedores como atrelada a ativos em dólares, também enfrentava pressão e recuava a abaixo de 1 dólar, segundo a CoinMarketCap.

“Para estes tipos de stablecoins, o mercado precisa ter confiança de que o emissor detém ativos líquidos suficientes que precisarão ter para vender em momentos de estresse do mercado”, afirmaram analistas do Morgan Stanley.

A companhia que opera o Tether afirma que tem os ativos necessários na forma de títulos do Tesouro norte-americano, além de dinheiro, títulos corporativos e outros produtos do mercado de capitais.

Mas a Tether provavelmente vai enfrentar novos testes de estresse se os operadores continuarem vendendo e analistas estão preocupados de que o movimento possa ser transmitido ao mercado de capitais se a pressão forçar mais liquidações.

A agência de classificação de risco Fitch disse em nota na quinta-feira que pode haver “repercussões negativas significativas” para criptomoedas e finanças digitais se os investidores perderem a confiança nas stablecoins.

“Muitas entidades reguladas do mercado financeiro aumentaram exposição a criptomoedas, finanças descentralizadas e outras formas de ativos digitais nos últimos meses e alguns grupos acompanhados pela Fitch podem ser afetados se a volatilidade do mercado de cripto se tornar grave.”

Mas a Fitch afirmou nesta semana que os vínculos fracos entre os mercados de criptomoedas e os mercados financeiros regulados limitarão o potencial da volatilidade do mercado de criptomoedas em causar uma instabilidade financeira mais ampla.

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