As criptomoedas estão se tornando cada vez mais populares. Prova disso foram duas medidas anunciadas pela gestora de recursos BlackRock. No início de agosto, ela fechou uma parceria com a exchange Coinbase para oferecer esses ativos para seus clientes institucionais. Uma semana depois, na quinta-feira (11), anunciou a criação de um fundo nos Estados Unidos que investe em bitcoins (BTC). Com um detalhe importante: o novo produto será destinado a investidores institucionais, como fundos de pensão, family offices e seguradoras. “Estamos vendo um interesse substancial de alguns clientes institucionais em como acessar esses ativos de maneira eficiente e econômica”, informou a companhia.

Tudo o que a companhia faz afeta o mercado. Não é por acaso. Ela é a maior gestora de fundos do mundo, com US$ 10 trilhões em patrimônio. Além disso, ela opera o gerenciador de ativos financeiros Aladdin. Abreviatura para Asset, Liability and Debt and Derivative Investment Network, o Aladdin é a plataforma de acompanhamento de investimentos com mais recursos no mundo, tendo US$ 21,6 trilhões de dólares sob custódia. Por isso, a notícia deixou o mercado de criptomoedas animado.

Um dia após o anúncio, na sexta-feira (12), o bitcoin subiu 2% e retornou aos US$ 24 mil, patamar que se sustentou por alguns dias. A agitação aconteceu principalmente devido à decisão da gestora. Ela mostra uma mudança radical de opinião do fundador e CEO da BlackRock, Larry Fink. Ele disse, em outubro de 2017, que o bitcoin era um instrumento para atividades ilegais. “O bitcoin apenas mostra quanta demanda de lavagem de dinheiro existe no mundo. Isso é tudo. É um índice de lavagem de dinheiro”, afirmou. Apesar de o executivo não ter emitido nenhuma declaração sobre o lançamento, esse é um caso em que atos valem muito mais do que palavras. Independentemente do que Fink ache sobre os criptoativos, sua empresa considerou a demanda dos investidores institucionais relevante o suficiente para ingressar nesse mercado.

Segundo os analistas, esse movimento é um divisor de águas. “Essa notícia é um marco importante, visto que até a empresa que criticava esses investimentos uns anos atrás está abrindo a possibilidade de seus clientes investirem na sua própria plataforma”, disse o gestor de portfólio da Hashdex João Marco.

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“A mudança de opinião da BlackRock é um marco para a história do bitcoin” João Marco, gestor de portfólio da Hashdex.

IMPACTOS Como o movimento da BlackRock altera as recomendações de investimento? Apesar de não ser capaz de mudar tendências de alta ou de baixa, a entrada com força dos investidores institucionais nesse mercado poderá atenuar a volatilidade dos preços. Segundo os especialistas, ativos cujos mercados são dominados por pequenos investidores tendem a mostrar solavancos maiores, pois os movimentos de compra e de venda costumam ser simultâneos. Grandes participantes, como fundos de pensão, podem aproveitar momentos de baixa para comprar, e momentos de alta para vender, suavizando as oscilações.

Como investir? Segundo o analista chefe da Titanium Asset, Ayron Ferreira, a melhor forma de testar esse mercado, que ainda não está totalmente regulamentado, é por meio de empresas sólidas. Valter Rebelo, analista da Empiricus Cripto, afirmou que o primeiro mandamento é não colocar mais 5% do seu patrimônio, visto o risco que o investidor pode enfrentar. “Se a pessoa conhecer o assunto vale a pena investir um pouco mais, mas o recomendável é que não passe muito desse percentual”, disse Rebelo.

Seguindo essa premissa, bitcoin e ethereum não podem faltar na carteira. “A compra deve ser feita aos poucos para o investidor ter um bom preço médio”, afirmou o gestor de portfólio da Hashdex João Marco. Ele explica que o interessado deve fazer desse jeito por causa da alta volatilidade que o mercado apresenta.

É o que destaca Ferreira, da Titanium Asset. Para ele, mesmo que o anúncio da BlackRock tenha sido muito bom, o atual ciclo de alta de juros atrapalha o desempenho dos ativos de risco. Por isso, para Ferreira, é algo para o longo prazo. “Continuamos muito confiantes na tese de valor do bitcoin como rede e moeda para descentralizar o sistema financeiro e se tornar uma reserva de valor amplamente adotada”, afirmou.