O ‘arrependido’ Chuck Blazer, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, ou os ex-presidentes da Concacaf (Jack Warner) e da Conmebol (Nicolás Leoz): o escândalo que sacode a Fifa há uma semana tem vários personagens, todos imprescindíveis para montar o quebra-cabeça da corrupção na entidade.

O ex-todo poderoso secretário-geral da Concacaf, o americano Chuck Blazer, um milionário com barba de Papai Noel, de 70 anos, aceitou colaborar com o FBI, depois de ser acusados de fraude fiscal, lavagem de dinheiro e corrupção. Muitos o conheciam como “Senhor 10%” em seus anos de mando e desmando na Fifa. Blazer é peça-chave na investigação da justiça americana e chegou até a levar um microfone escondido num chaveiro para gravar as reuniões com outros dirigentes da Fifa.

Ex-vice-presidente da Fifa e ex-presidente da Concacaf, o trinitino Jack Warner é uma figura central no escândalo de corrupção da Fifa. A maior parte das acusações envolvem esse homem de 72 anos, que faz parte da lista dos nove dirigentes acusados de “pagamentos ilegais, corrupção, fraude e lavagem de dinheiro”. O currículo de Warner já havia sido manchado por escândalos de corrupção. O trinitino teve que deixar a Concacaf e a Fifa em 2011 por ter tentando comprar votos a favor do catari Mohamd Bin Hammam, durante campanha à presidência da Fifa.

Considerado intocável, principalmente depois de ser reeleito na sexta-feira passada para um quinto mandato como presidente da Fifa, Joseph Blatter, de 79 anos, mostrou ser mortal. Na terça-feira, anunciou sua renúncia. Horas antes, o jornal americano The New York Times havia acusado diretamente seu braço direito, o francês Jerome Valcke, secretário geral da Fifa, de transferir 10 milhões de dólares a contas geridas por Warner. O baque foi forte demais para Blatter e acabou com a carreira de 40 anos na Fifa do suíço, os últimos 17 como presidente da entidade.

Conseguindo envolver Valcke, a imprensa americana levou Blatter ao abismo. O francês de 54 anos era o número 2 da Fifa desde 2007, apesar de ter sido demitido da Fifa em 2006 por causa de um litigio milionário entre Mastercard e Visa. “Não tenho nada a dizer, não tenho motivos para me justificar, já que sou inocente”, se defendeu Valcke, na quarta-feira.

Em 27 de maio, nas primeiras horas da manhã, a polícia Suíça entrou no hotel de luxo Baur au Lac, em Zurique, saindo do local com sete dirigente do futebol presos. Entre eles, Jeffrey Webb (Ilhas Cayman), que era vice-presidente da Fifa e presidente da Concacaf no momento da prisão. Os outros seis presos são Eduardo Li (Costa Rica), que era membro do comitê executivo da Fifa e da Concacaf; Julio Rocha (Nicarágua), responsável pelo desenvolvimento da Fifa; Costas Takkas (Ilhas Cayman, Grã-Bretanha), colaborador do presidente da Concacaf; Eugenio Figueredo (Uruguai), vice-presidente e membro do comitê executivo da Fifa; Rafael Esquivel (Venezuela), membro do comitê executivo da Conmebol e presidente da Federação Venezuelana; José Maria Marin (Brasil), membro do comitê de organização da Fifa pra o futebol olímpico e ex-presidente da CBF.

O ex-presidente da Conmebol (1986-2013), o paraguaio Nicolás Leoz, tem agora 86 anos, uma saúde frágil e está em prisão domiciliar, depois das acusações das autoridades americanas. Leoz deixou a Conmebol em 2013, envolvido em outro escândalo de corrupção (‘caso ISL’), sendo substituído no cargo pelo uruguaio Figueredo, um dos presos na semana passada na Suíça, antes do paraguaio Juan Ángel Napout passar a ser o mandatário da confederação sul-americana no início do ano. Leoz é agora investigado por conspiração, formação de quadrilha e enriquecimento ilícito.

O príncipe jordaniano Ali, único adversário de Blatter no Congresso eleitoral da Fifa, na semana passada, perdeu para o suíço nas urnas por 133 votos a 73. Poderia ter levado a votação ao segundo turno, mas desistiu da eleição, sabendo que não tinha chances de ganhar. Logo após ficar sabendo da renúncia de Blatter, Ali declarou que estava pronto para assumir imediatamente o cargo caso fosse necessário. Aos 39 anos, foi vice-presidente da Fifa e fez da ética e da transparência na entidade suas promessas de campanha. Ali é meio-irmão do rei jordaniano, Abdullah II, mas não conta com o apoio da Confederação Asiática, fiel a Blatter.

Outro homem chave no futuro da Fifa é o francês Michel Platini, presidente da Uefa. Aos 60 anos, o ex-jogador da Juventus é um dos principais opositores de Blatter. Seu nome aparece em muitos prognósticos como possível aspirante à presidência da Fifa, mas pode ter dificuldades de alavancar o apoio do resto do mundo, já que parece ter os interesses da Europa como missão principal, além de ter votado a favor da Copa do Mundo no Catar-2022.